Tuesday, March 07, 2006

Luísa Botinas, «DN», analisa cemitério de Carnide... e conclui!

O cemitério de Carnide foi inaugurado há uns anitos. Devia estar em perfeito estado, até por se tratar de uma unidade que resulta de conceitos novos à data... Mas não. Eis o que pode ler hoje no «DN»:


Cemitério moderno está às portas da morte
por
Luísa Botinas

Ocenário parece assustador: corpos que não se decompõem num cemitério, ao fim do período de cinco anos quando se procede à exumação dos cadáveres. Tal e qual um filme de terror. Isto é o que se passa no único cemitério de Lisboa construído pela autarquia no século XX, e é digno da imaginação do mais criativo dos argumentos de Spielberg.

Desde Janeiro de 2004 que o Cemitério de Carnide não recebe mais enterramentos devido aos problemas estruturais que enfrenta. "Apenas em casos especiais são permitidas inumações", disse ao DN o vereador responsável pela gestão cemiterial de Lisboa, António Prôa. Uma dessas excepções foi precisamente o funeral da escritora Sophia de Mello Breyner. Mas, na verdade, até que seja encontrada a solução técnica para resolver o problema detectado não são permitidos mais enterramentos naquele espaço.

Mas afinal qual a razão de tamanho mistério que intrigou sobretudo familiares dos mortos. Trata-se de um problema de construção, explica o vereador, especificando que "tudo tem que ver com a drenagem dos terrenos e das zonas das sepulturas. Não foi fácil encontrar quem responsabilizar. A câmara esteve em litígio com o empreiteiro, alegando erros de concepção/construção", acrescenta. "Para resolvermos o problema, pedimos ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) para estudar o caso e o laboratório encarregar-se-á de fazer o diagnóstico e apontar soluções. Espera-se que o estudo encomendado apresente conclusões ainda este ano.

Para que a decomposição dos corpos aconteça, os solos têm que reunir determinadas condições: humidade e arejamento. Porém, se houver arejamento sem humidade, o cadáver fica mumificado. Mas, se houver água e pouco arejamento, os corpos demoram muito mais tempo a decompor-se.

O novo complexo funerário

O cemitério de Carnide constitui o primeiro cemitério-jardim da cidade e o único construído pela câmara de Lisboa no século XX (inaugurado em Janeiro de 1996). Neste espaço os elementos verdes são predominantes, com extensos relvados, árvores e arbustos, além de caminhos e locais de estadia aprazíveis. Pensado em novos moldes, este cemitério ofereceu ao público vários serviços até então indisponíveis nos espaços cemiteriais, como quatro salas de velório e uma sala ecuménica, preparada para receber rituais de todos os cultos. Situadas no edifício administrativo, mas com entrada independente, existem lojas de pedras ornamentais e de flores.

É grande em área e tem ainda uma zona de expansão prevista que permitirá aumentar a sua capacidade para o dobro. A construção do crematório está integrada no complexo denominado tanatório que o actual executivo pretende construir em Carnide. "Não é mais do que dotar a cidade de uma maior oferta de cremação. Haverá mais fornos crematórios, salas de vigília, salas de apoio com bar, cafetaria, salas de repouso, apoio médico, salas de tanatopraxia. Tudo isto para garantir aos munícipes de Lisboa as melhores condições numa situação de sofrimento", explica António Prôa.

O projecto está orçado em 4 milhões de euros e, segundo o vereador, a intervenção deverá desenrolar-se faseadamente. Mas para que as coisas avancem, será necessário encontrar a solução para o problema estrutural que afecta Carnide. A autarquia admite a hipótese de fazer este projecto no regime de concepção/construção/concessão. António Prôa garante que tal opção não acarretará acréscimo de custos para os munícipes.

Reconhecendo a existência de críticas da parte da oposição, muitas delas do PCP que o acusa de querer privatizar os cemitérios de Lisboa, Prôa assegura todavia que "neste momento não há qualquer solução fechada que esteja já decidida".

O PCP acredita que o PSD está a aproveitar a necessária criação de mais fornos crematórios em Lisboa como pretexto para voltar a colocar na agenda política a questão da privatização dos cemitérios, numa aparente repetição da tentativa verificada no mandato anterior. Os comunistas receiam que o "concurso público internacional de concepção, construção, gestão, exploração e manutenção do complexo funerário de Carnide signifique que a empresa ou o consórcio vencedor ficará igualmente detentor do complexo, numa efectiva operação de privatização de serviços públicos essenciais".

Em 1985 o então presidente da Câmara de Lisboa Krus Abecasis decidiu construir um novo cemitério em Lisboa. O estudo prévio foi aprovado no mesmo ano. Era necessário um novo espaço de enterramentos. Para tanto, foi realizado um estudo de reordenamento territorial o qual deveria conter uma previsão dos enterramentos e das cremações num horizonte temporal definido. Chegou-se então à conclusão que era indispensável a construção de um novo cemitério.
As alternativas de localização começaram por desenhar-se: a zona do Restelo chegou a ser uma delas. Mas Carnide reuniu logo à partida todas as condições, apesar de um inconveniente: o nível freático nos terrenos (o nível a que se localizam as linhas de águas subterrâneas). Cientes das características do terreno, os responsáveis optaram, apesar de tudo, por Carnide, partindo do princípio que era possível contornar as dificuldades através de soluções técnicas apropriadas. Uma delas, seria a instalação de um bom sistema de drenagem, abaixo do prisma de enterramento (2 metros) a outra, passaria pela correcção das características físicas e mecânicas dos solos nesse prisma de enterramento, conseguida através da remoção dos solos existentes e da colocação de outros solos.

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