Eis a saborosamente bem escrita carta de alarme e de raiva:
Durante mais de 20 anos fui morador no Bairro Social do Arco do Cego (para ser mais preciso, entre os meus 4 e os meus 27 anos). A minha memória pessoal está pois abundantemente povoada de momentos passados no cenário do Arco do Cego e suas imediações. Ontem, sábado 25 de Março, saído do Saldanha Residence (onde acabara de ver o Coisa Ruim), dirigia-me eu, levado pelas exigências do estômago, a casa dos meus pais, ali junto ao Liceu D. Filipa de Lencastre. Ao chegar à Av. João Crisóstomo, decidi espreitar os avanços das obras no ainda incompleto Jardim do Arco do Cego. É que uns dias antes apercebera-me de que havia azáfama, máquinas em manobras, gente em movimento, açodada. Pensei: finalmente vai ser concluída a 2ª fase do jardim, talvez para estar pronta no Verão. A 1ª fase, já terminada (claro que com enorme atraso em relação ao inicialmente previsto), inclui um grande relvado central, árvores plantadas (excepto a grande palmeira, felizmente preservada), percursos pedonais e mobiliário urbano (ou seja, bancos). Que diferença em relação aos tempos da central dos autocarros!Maior ainda a diferença quando a 2ª fase fosse levada avante. Qual o projecto, anunciado e prometido publicamente? Como o Senhor Vereador sabe, o objectivo era «transformar a estrutura original da Gare do final do século XIX em jardim coberto, com vegetação exótica, plano de água, percursos, espaços comerciais e culturais». É isso que consta, textualmente, no projecto aprovado pela Câmara.Decidi espreitar, dizia, convencido que era isso que estaria a ser feito, que era esse o intuito e o motor de toda aquela agitação laboriosa. Subi uma rampa, pela entrada da João Crisóstomo e... papagaio! Um parque de estacionamento! Tudo alcatroado, de ponta a ponta, uma planura de alcatrão com marcações a tinta amarela, dezenas, centenas de lugares para automóveis. Nas últimas eleições, senhor Vereador, votei em si, votei no Bloco de Esquerda. Pergunto-lhe: que raio aconteceu ao Jardim Coberto do Arco do Cego?
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