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Deixo-lhe aí a estátua com dois pormenores, para se divertir com estas memórias como eu próprio me divirto.
Comecemos do princípio.
Sabe o que é um farrapo? É um pedaço de tecido velho e sem utilidade. Sem utilidade, propriamente, não: o farrapo, os restos de tecidos, eram reaproveitados – foi a primeira forma de reciclagem que eu conheço.
A coisa passava-se assim: havia uma aldeia perto da Covilhã, o Dominguiso, onde vários homens faziam a sua vida negociando pelas aldeias em volta. Compravam trapos, farrapos, sucatas, peles… tudo o que houvesse em desperdício. No caso da minha aldeia, por exemplo, o farrapeiro do Dominguiso, que é uma personagem, um tipo, chegava lá ao cimo da aldeia, desatava a berrar o seu pregão e aí desencadeava-se o processo comercial: as pessoas iam buscar o que tinham para vender, punham-se à porta de casa, o senhor chegava, parava, oferecia o preço que entendia, pagava, metia em cima do cavalo (mais tarde já da mota) e seguia para a casa seguinte, onde tudo recomeçava se houvesse alguém às portas… O destino dos farrapos eram provavelmente as fábricas de lanifícios da Covilhã ou eventualmente para fabricar mantas chamadas «mantas de orelos», mantas de trapos.
Escolher trapo foi aliás o primeiro muitas mulheres da região.
As reminiscências que nós agora temos dessas cenas dos anos 50, já não dão para ter certezas: se os trapos etc. eram pesados ou se o negócio era feito mais a olho; se o pregão era como nós pensamos ou se era como está fixado na chapa de cobre rebitada na estátua à entrada do Dominguiso.
Nós achamos, de acordo com as nossas memórias, que o pregão era assim:
«Há farrapos ou peles de coelho para vender?»
Ora, o que está escrito na chapa da estátua é um bocadinho ao lado.
O significado é o mesmo. Mas o «texto» é ligeiramente diferente.
Ficam aí os dois registos…
As reminiscências que nós agora temos dessas cenas dos anos 50, já não dão para ter certezas: se os trapos etc. eram pesados ou se o negócio era feito mais a olho; se o pregão era como nós pensamos ou se era como está fixado na chapa de cobre rebitada na estátua à entrada do Dominguiso.
Nós achamos, de acordo com as nossas memórias, que o pregão era assim:
«Há farrapos ou peles de coelho para vender?»
Ora, o que está escrito na chapa da estátua é um bocadinho ao lado.
O significado é o mesmo. Mas o «texto» é ligeiramente diferente.
Ficam aí os dois registos…
Fotos: Joaquim Gouveia (obrigado, em nome do leitor)
Chamo a sua atenção para um pormenor que fixámos para si: a balança de mola que o farrapeiro tem na mão...
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