Thursday, March 08, 2007

Sócrates e o marketing agressivo que pratica


Truques que um dia deixarão de dar bons frutos

É sabido que as equipas de marketing que apoiam o Governo são muito boas. Tanto, que têm obtido esta coisa fabulosa: péssima política contra o País que trabalha e as melhores sondagens de sempre para o Governo… Algo se passa.
Mas eis que de repente parece haver uma contradição: em casos como o dos Professores, o das Urgências dos Centros de Saúde ou o da Função Pública parecem ter fugido ao controlo do marketing: o Governo avança, recua, baralha, dialoga depois de grandes manifestações de rua antes das quais tinha ameaçado que impunha, fechava, despedia…
Tomo o caso das Urgências.
Primeiro passo em público: «Vamos fechar as Urgências tais e tais». Sem mais. Sem apelo nem agravo.
Logo de seguida, a população sai à rua em números nunca vistos em certas zonas (Valença é um bom exemplo).
Logo de seguida, o Governo parece que recua e Sócrates chama a si o dossier, as Urgências já não fecham assim a torto e a direito.

Pergunto: o que é que falhou?
O marketing ou a sua execução?

Ou somos nós que não estamos a ver a realidade toda, do ponto de vista do Governo?

Tenho uma teoria.

O Governo sabe muito bem o caminho que trilha e que quer trilhar. E é impassível nessa caminha. Determinado. Mas toma em conta os votos que poderá perder em cada caso. Isso é o mais importante para Sócrates. É por isso que, em meu entender, há aqui na acção do Governo em certos casos muito sensíveis, uma aparente contradição e um aparente erro de marketing. Que não o é e já explico como é que vejo a coisa.

Pense nas Urgências.
Sócrates impôs-se a si mesmo determinadas metas no corte de despesas. Feitos muitas vezes sem alma. E deixando os bancos à solta com lucros escandalosos e sem pagar impostos como deviam. Bem: quer fazer cortes. Mas o mais importante para ele são os votos, as sondagens. E quando as sondagens ao telefone são insuficientes para ter certezas, recorre sem hesitar aos laboratórios reais que são as populações quando lhes tocas no mais fundo. Servem de cobaias, num modelo muito simples. Tão simples que nem acreditamos que seja possível. Mas é.

Eis o que penso que o Governo faz. Caso das Urgências, por exemplo. Meta: fechar 20, por exemplo. Mas se se conseguirem fechar 30 ou 40, melhor. Técnica adoptada (contra a opinião dos homens do marketing, que, de certeza, consideram esta técnica muito arriscada): «Vamos começar já por dizer que fechamos. Só depois é que dizemos que reorganizamos o sector (e aqui digo eu: qualquer técnico de marketing sabe que se deve começar pelo positivo. Eles fazem ao contrário e parece infantilidade e inépcia, mas não é: siga o meu raciocínio mais umas linhas)». «Quantas temos mesmo de fechar?» «20» (minha hipótese). «Vamos dizer que fechamos 50». «A malta vai reagir e nós vamos adaptando a fasquia conforme a reacção: fechamos 20, no mínimo, mas podemos com facilidade ir às 30 ou mesmo 40».
Isto, que parece perfídia pura, é perfídia pura: é marketing invertido, subjugado aos objectivos políticos menos nobres.
Mas é.
E, como estamos a dois anos de eleições, Sócrates acha que quando começar a distribuir benesses, depois da Presidência Europeia, ganha tudo e todos e no dia das eleições já ninguém se lembra das Urgências…

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