Lisboa ontem, Lisboa hoje…
Há coisas inesperadas na vida das cidades. Por exemplo esta: será que o traçado e os nomes das ruas têm a ver com o crescimento e com o desenvolvimento de Lisboa? Resposta: têm, sim. Melhor: nalguns casos famosos têm a ver com isso também, entre muitos outros factores.
De facto, algumas artérias de Lisboa resultaram directamente quer das realidades do crescimento da cidade ao longo dos séculos quer de estratégias de desenvolvimento defendidas e implementadas gradualmente. Dois exemplos com histórias interessantes na sua origem: a Rua Nova do Almada e a Avenida da Liberdade. Se se reparar, ambas vão para Norte e ambas arrancam da zona «ribeirinha» (zona que, no século XVII estava só lá em baixo, ainda nas margens do Tejo, mas que, no século XIX, já estava ali pelo Rossio…).
Nessas épocas, com Lisboa em estádios diferentes de crescimento, o que era preciso, ao contrário do que acontece hoje em dia, era tirar as pessoas da Baixa e levá-las para os terrenos envolventes… Hoje o que é preciso é evitar os carros na Baixa mas trazer para cá residentes.
Vamos então às histórias das duas artérias citadas.
A Rua Nova do Almada, rezam as crónicas, foi a primeira a ter nome em Lisboa oficialmente atribuído pela Câmara, que, naquela época, se designava «Senado» da Cidade. Estava-se em 1665. «O Almada» (Rui Fernandes de Almada) era o presidente da Câmara. Pode constatar isso nos Paços do Concelho, nas placas de mármore que se encontram nas paredes do átrio. Esta, por acaso, está meio escondida atrás da enorme porta antiga que ali se encontra exposta. O homem tinha a seguinte visão estratégica do desenvolvimento de Lisboa: é preciso abrir a cidade para Norte, afastar tanta gente das margens do rio. E assim, ao abrir aquela artéria, recolheu os louvores de toda a gente, a ponto de lhe darem o seu nome.
Como se sabe, esta rua liga o Largo de São Julião ao Chiado (a São Francisco, na época), melhor, aos antigos armazéns do Chiado, actualmente zona comercial onde avulta a FNAC. É pois aquilo a que hoje chamaríamos «uma radial».
Era preciso levar a cidade desde a beira-rio, onde obsessivamente todos se concentravam, para as colinas ali à volta.
Foi essa uma das primeiras medidas de estratégia para desenvolver Lisboa: criar radiais, alargar Lisboa para fora da «Baixa» da altura, que era apenas de uns duzentos ou trezentos metros à beira-rio. Estava-se no último terço do século XVII…
Avenida da Liberdade
Agora, quanto á Avenida da Liberdade: esta artéria central de Lisboa «nasce» mais tarde, em plena era liberal, dois séculos depois. Nessa altura, outro presidente da CML seria muito ovacionado por ter decidido outra ligação radial: a actual Avenida da Liberdade, aberta por prolongamento do antigo Passeio Público, rompendo vedações e demolindo construções anárquicas que por ali grassavam. Isso, nos anos 80 do século XIX.
Assim era nesses tempos: o desenvolvimento exigia que a cidade subisse do Tejo para todas as direcções.
Hoje há problemas diferentes cuja consideração se impõe para uma estratégia de desenvolvimento: quer em matéria de políticas de crescimento demográfico quer em matéria de políticas de trânsito.
Quanto ao trânsito: hoje, em vez de radiais, querem-se circulares. Por isso é que muitos consideram o Túnel do Marquês um erro: vai meter mais carros e mais depressa no centro de Lisboa.
Hoje, em vez de afastar as pessoas da beira-rio e da «Baixa» para «o interior» da Lisboa, o que é preciso é atrair pessoas à Baixa, que está deserta, e reabilitar esta zona, que está em degradação.
Estas são, ao longo da História, algumas das estratégias para o desenvolvimento de Lisboa – que também hoje muito precisa dele, como capital do País.
Há coisas inesperadas na vida das cidades. Por exemplo esta: será que o traçado e os nomes das ruas têm a ver com o crescimento e com o desenvolvimento de Lisboa? Resposta: têm, sim. Melhor: nalguns casos famosos têm a ver com isso também, entre muitos outros factores.
De facto, algumas artérias de Lisboa resultaram directamente quer das realidades do crescimento da cidade ao longo dos séculos quer de estratégias de desenvolvimento defendidas e implementadas gradualmente. Dois exemplos com histórias interessantes na sua origem: a Rua Nova do Almada e a Avenida da Liberdade. Se se reparar, ambas vão para Norte e ambas arrancam da zona «ribeirinha» (zona que, no século XVII estava só lá em baixo, ainda nas margens do Tejo, mas que, no século XIX, já estava ali pelo Rossio…).
Nessas épocas, com Lisboa em estádios diferentes de crescimento, o que era preciso, ao contrário do que acontece hoje em dia, era tirar as pessoas da Baixa e levá-las para os terrenos envolventes… Hoje o que é preciso é evitar os carros na Baixa mas trazer para cá residentes.
Vamos então às histórias das duas artérias citadas.
A Rua Nova do Almada, rezam as crónicas, foi a primeira a ter nome em Lisboa oficialmente atribuído pela Câmara, que, naquela época, se designava «Senado» da Cidade. Estava-se em 1665. «O Almada» (Rui Fernandes de Almada) era o presidente da Câmara. Pode constatar isso nos Paços do Concelho, nas placas de mármore que se encontram nas paredes do átrio. Esta, por acaso, está meio escondida atrás da enorme porta antiga que ali se encontra exposta. O homem tinha a seguinte visão estratégica do desenvolvimento de Lisboa: é preciso abrir a cidade para Norte, afastar tanta gente das margens do rio. E assim, ao abrir aquela artéria, recolheu os louvores de toda a gente, a ponto de lhe darem o seu nome.
Como se sabe, esta rua liga o Largo de São Julião ao Chiado (a São Francisco, na época), melhor, aos antigos armazéns do Chiado, actualmente zona comercial onde avulta a FNAC. É pois aquilo a que hoje chamaríamos «uma radial».
Era preciso levar a cidade desde a beira-rio, onde obsessivamente todos se concentravam, para as colinas ali à volta.
Foi essa uma das primeiras medidas de estratégia para desenvolver Lisboa: criar radiais, alargar Lisboa para fora da «Baixa» da altura, que era apenas de uns duzentos ou trezentos metros à beira-rio. Estava-se no último terço do século XVII…
Avenida da Liberdade
Agora, quanto á Avenida da Liberdade: esta artéria central de Lisboa «nasce» mais tarde, em plena era liberal, dois séculos depois. Nessa altura, outro presidente da CML seria muito ovacionado por ter decidido outra ligação radial: a actual Avenida da Liberdade, aberta por prolongamento do antigo Passeio Público, rompendo vedações e demolindo construções anárquicas que por ali grassavam. Isso, nos anos 80 do século XIX.
Assim era nesses tempos: o desenvolvimento exigia que a cidade subisse do Tejo para todas as direcções.
Hoje há problemas diferentes cuja consideração se impõe para uma estratégia de desenvolvimento: quer em matéria de políticas de crescimento demográfico quer em matéria de políticas de trânsito.
Quanto ao trânsito: hoje, em vez de radiais, querem-se circulares. Por isso é que muitos consideram o Túnel do Marquês um erro: vai meter mais carros e mais depressa no centro de Lisboa.
Hoje, em vez de afastar as pessoas da beira-rio e da «Baixa» para «o interior» da Lisboa, o que é preciso é atrair pessoas à Baixa, que está deserta, e reabilitar esta zona, que está em degradação.
Estas são, ao longo da História, algumas das estratégias para o desenvolvimento de Lisboa – que também hoje muito precisa dele, como capital do País.
5 comments:
Acho optimas estas "intervenções" culturais para aligeirar o blog.. mas algum rigor histórico. A Rua Nova do Almada não foi feita para abrir a cidada a norte porque ela até desce para sul. Foi feita porque era uma velha aspiração da população da cidade ter uma ligação à baixa e principalmente à beira rio onde à epoca tudo se passava que não a obrigassea ir ao Rossio. Isso de facto foi-lhe dado pelo Almada, à época Presidente do Senado que na realidade não deu o nome à rua. A rua esteve muitos anos sem nome epor isso por ser a "Rua nova" aberta pelo Almada o Povo acabou por lhe chamar Rua Nova do Almada. O tempo acabou por lhe dar esse nome oficialmente. Também o enérgico Presidente da Câmara que mandou abrir a Avenida da Liberdade, Rosa Araújo, não foi nada aplaudido na época. Pelo contrario a abertura da Avenioda foi alvo de abaixo assinados de tudo quanto era intelectualidade da altura e de grande parte da população pois a sua abertura obrigou à demolição do Passeio Publico onde a cidade se passeava. Foi de tal forma que a Camara cortava as arvores de dia e só as tirava à noite. Ah, uma nota só. Rosa Araujo chegou a pagar do seu bolso parte das obras porque a Cãra (já na época) não tinha dinheiro para as obras andarem.
Era assim que o Carmona devia ter feito com o Parque Mayer e com o Tunel do Marques. Pagavam do bolso dele e o Santana dava uma ajuda.
Obrigadíssimo, anónimo das 11:40.
Como calculará, o que escrevi, fui bebê-lo em autores diversos e até a uma síntese existente num site e sem autor referido. Só por isso é que não fiz referência expressa à bibliografia.
Mas fica-me a lição.Vou continuar a investigar mais.
Lembro-me, aliás muito bem de ter lido estas duas coisas: 1º - O Senado deu o nome do Almada à rua; 2º - Isso aconteceu por reconhecimento pela abertura para expans´~ao da Cidade para Norte.
Pode inddicar-me com urgência alguma bibliografia?
Obrigado!
O meu comentário não era de todo uma critica. Apenas um apontamento. Acho a ideia de aligeirar o blog com aspectos também da historia da cidade muito interessante. Mandar-lhe-ei algumas referencias bibliograficas.
Não vejo onde está a “polémica”. A rua sobe para norte e desce para sul. No século XVII toda a área que conhecemos hoje por Chiado já estava urbanizada. A Rua das Portas de Sta. Catarina (hoje Garrett) era o principal acesso ocidental à cidade mas terminava em frente ao convento de S. Francisco da Pedreira (Grandes Armazéns, não confundir com o outro convento, hoje Governo Civil e Belas-Artes). Quem quisesse prosseguir para a Baixa tinha de percorrer as ruas estreitas e íngremes até ao Rossio e daí para o Terreiro do Paço. A abertura da Rua Nova, de traço moderno (i.e. larga), permitiu a ligação mais curta e menos íngreme entre o Terreiro do Paço e as Portas de Sta. Catarina. O seu traçado era tão moderno que após o terramoto foi das poucas ruas que viu o seu traçado quase inalterado.
A. Oliveira
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