Fizeram-me chegar esta carta aberta. Transcrevo-a, tal e qual. Se quiser saber mais sobre o autor, vá ao seu site personalizado, aqui.
«Caro António Costa,
Acho que está a cometer um erro com a sua insistência em pedir aos eleitores de Lisboa para lhe darem maioria absoluta para poder governar a cidade. Está, implicitamente, a dizer que não sabe ou não se sente com capacidade para governar com maioria simples.
Ora, eu penso que é, não só provável mas também desejável, não haver nestes próximos dois anos uma maioria absoluta na Câmara de Lisboa.
Os problemas actuais da cidade são demasiado difíceis para serem resolvidos por um partido com maioria absoluta. Se for o caso, a vereação ficará inevitavelmente dividida em duas partes. Uma que tentará, sem ter os meios para isso e com propostas talvez nem sempre as melhores, resolver os problemas da cidade. Outra, desresponsabilizada porque remetida para uma oposição sem poder, que contabilizará com vantagens suas os fracassos da primeira, que não deixarão de ser fracassos para a cidade.
No caso de só haver uma maioria simples, o Presidente da Câmara terá o extraordinário trabalho de negociar, caso a caso, com todos os vereadores a solução de todos os problemas. (Não se trata de conseguir uma maioria prévia para aprovar depois todas as propostas porque, neste caso, a situação seria igual à da maioria absoluta).
Acontece que o António Costa, pelas qualidades que julgo serem as suas, parece ser, de todos os candidatos, o mais capaz de desempenhar este papel de Presidente de uma Câmara sem maioria absoluta. Se, como as sondagens parecem indicar, vier a estar nesta situação, será nela que poderá mostrar ter as qualidades para governar a cidade nos 4 anos a seguir.
Temos na frente, em Lisboa, um período muito difícil, que poderá vir a ser um período criativo e muito válido para a Democracia, ou um período de descrédito em que os cidadãos se sintam cada vez mais longe da Administração. Para já, o aparecimento de candidaturas independentes pode ser (não é certo que seja) uma lufada de ar fresco. Mas, o mais importante, é ver como é que os partidos reagem, actuam e, nalguma medida, se transformam para fazer face a esta situação.
Choca-me que, neste preciso momento, a Assembleia da República se empenhe, algo em circuito fechado, em alterar a leis eleitorais autárquicas, sem esperar pela experiência da eleição Lisboa, em que os cidadão alguma coisa irão dizer.
Não vou votar em si nesta eleição. A razão é a seguinte: no programa eleitoral do PS apresentado nas últimas eleições legislativas de 2005 não há qualquer referência à privatização da ANA. No entanto, em 14 de Fevereiro, o Governo de que fazia parte aprovou a Resolução 20/2007 que determina a privatização de 51% da ANA e ainda que esta privatização e a "contratação da concepção, construção, financiamento, e exploração do novo aeroporto de Lisboa, a localizar na Ota sejam realizados através de uma operação única que conjugue aquelas componentes".
Acho que esta operação de uma gravidade extrema, que nunca foi discutida, nem em Congressos, nem nas estruturas de base do Partido Socialista, e que está a ser preparada no segredo dos gabinetes, põe em causa, de um modo mal preparado, injustificado e desnecessário, a soberania nacional num sector em que havia todo o interesse em a conservar. O meu desejo é que o Governo e o Partido Socialista revejam o assunto. Mas, enquanto tal não for feito, não votarei em nenhuma eleição legislativa, autárquica, ou interna do PS, em nenhuma lista encabeçada por um ministro ou antigo ministro que tenha votado a Resolução 20/2007, com é o seu caso.
Espero que o assunto seja revisto e a operação nos moldes indicados não tenha seguimento, de modo a poder votar em si na eleição para a Câmara de Lisboa, em 2009. Entretanto, seguirei com atenção a sua campanha enviarei a si e aos outros candidatos algumas notas sobre assuntos que penso terem interesse para a cidade de Lisboa.
Com as melhores saudações
António Brotas
PS - Hesitei sobre se devia enviar esta carta unicamente a si a um número restrito de pessoas ou a mais pessoas. A intervenção de ontem na Televisão do José Lelo decidiu-me a divulgá-la amplamente.
9 de Junho de 2007»
«Caro António Costa,
Acho que está a cometer um erro com a sua insistência em pedir aos eleitores de Lisboa para lhe darem maioria absoluta para poder governar a cidade. Está, implicitamente, a dizer que não sabe ou não se sente com capacidade para governar com maioria simples.
Ora, eu penso que é, não só provável mas também desejável, não haver nestes próximos dois anos uma maioria absoluta na Câmara de Lisboa.
Os problemas actuais da cidade são demasiado difíceis para serem resolvidos por um partido com maioria absoluta. Se for o caso, a vereação ficará inevitavelmente dividida em duas partes. Uma que tentará, sem ter os meios para isso e com propostas talvez nem sempre as melhores, resolver os problemas da cidade. Outra, desresponsabilizada porque remetida para uma oposição sem poder, que contabilizará com vantagens suas os fracassos da primeira, que não deixarão de ser fracassos para a cidade.
No caso de só haver uma maioria simples, o Presidente da Câmara terá o extraordinário trabalho de negociar, caso a caso, com todos os vereadores a solução de todos os problemas. (Não se trata de conseguir uma maioria prévia para aprovar depois todas as propostas porque, neste caso, a situação seria igual à da maioria absoluta).
Acontece que o António Costa, pelas qualidades que julgo serem as suas, parece ser, de todos os candidatos, o mais capaz de desempenhar este papel de Presidente de uma Câmara sem maioria absoluta. Se, como as sondagens parecem indicar, vier a estar nesta situação, será nela que poderá mostrar ter as qualidades para governar a cidade nos 4 anos a seguir.
Temos na frente, em Lisboa, um período muito difícil, que poderá vir a ser um período criativo e muito válido para a Democracia, ou um período de descrédito em que os cidadãos se sintam cada vez mais longe da Administração. Para já, o aparecimento de candidaturas independentes pode ser (não é certo que seja) uma lufada de ar fresco. Mas, o mais importante, é ver como é que os partidos reagem, actuam e, nalguma medida, se transformam para fazer face a esta situação.
Choca-me que, neste preciso momento, a Assembleia da República se empenhe, algo em circuito fechado, em alterar a leis eleitorais autárquicas, sem esperar pela experiência da eleição Lisboa, em que os cidadão alguma coisa irão dizer.
Não vou votar em si nesta eleição. A razão é a seguinte: no programa eleitoral do PS apresentado nas últimas eleições legislativas de 2005 não há qualquer referência à privatização da ANA. No entanto, em 14 de Fevereiro, o Governo de que fazia parte aprovou a Resolução 20/2007 que determina a privatização de 51% da ANA e ainda que esta privatização e a "contratação da concepção, construção, financiamento, e exploração do novo aeroporto de Lisboa, a localizar na Ota sejam realizados através de uma operação única que conjugue aquelas componentes".
Acho que esta operação de uma gravidade extrema, que nunca foi discutida, nem em Congressos, nem nas estruturas de base do Partido Socialista, e que está a ser preparada no segredo dos gabinetes, põe em causa, de um modo mal preparado, injustificado e desnecessário, a soberania nacional num sector em que havia todo o interesse em a conservar. O meu desejo é que o Governo e o Partido Socialista revejam o assunto. Mas, enquanto tal não for feito, não votarei em nenhuma eleição legislativa, autárquica, ou interna do PS, em nenhuma lista encabeçada por um ministro ou antigo ministro que tenha votado a Resolução 20/2007, com é o seu caso.
Espero que o assunto seja revisto e a operação nos moldes indicados não tenha seguimento, de modo a poder votar em si na eleição para a Câmara de Lisboa, em 2009. Entretanto, seguirei com atenção a sua campanha enviarei a si e aos outros candidatos algumas notas sobre assuntos que penso terem interesse para a cidade de Lisboa.
Com as melhores saudações
António Brotas
PS - Hesitei sobre se devia enviar esta carta unicamente a si a um número restrito de pessoas ou a mais pessoas. A intervenção de ontem na Televisão do José Lelo decidiu-me a divulgá-la amplamente.
9 de Junho de 2007»
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