Wednesday, October 04, 2006


Baixa-Chiado
Olá! Aqui há plágio

Fala-se agora, como se o Comissariado tivesse inventado a coisa. Mas o autor é outro.
Eis a prova.
Transcrevo abaixo um artigo inserido no ‘Público’ há quase dois anos onde já se colocava a hipótese «escadas rolantes» da Baixa para o Castelo....
Guilherme Alves Coelho, arquitecto, é o autor do artigo.
Claro que conhecia o artigo. Por isso o pedi ao autor para inserir aqui.
Não é «por razões de autoria». Mas o seu a seu dono.
Aqui fica o artigo escrito há dois anos e publicado em 3 de Março de 2005.
Para que conste.

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"DE ESCADAS ROLANTES PARA O CASTELO"

Guilherme Alves Coelho (Arquitecto)

Esta proposta é dedicada a Ramalho e à Geração de 70 (do século XIX, claro), que viveram num tempo em que o lucro ainda não era um superlativo absoluto e havia mais lugar para a utopia. Assim como se dedica aos Lisboetas de hoje e a todos aqueles que, neste tempo, nos visitam.

Aqui se propõe uma maneira fácil, barata, segura e discreta, de aceder ao monumento mais visitado do País, o Castelo de S. Jorge Seja pelo turista, nacional ou estrangeiro, seja por aqueles que no cimo, ou pelo caminho, moram.
Mesmo que as lutas entre sitiantes e sitiados tenham terminado há muito, após séculos de desejos de fácil escalada dos primeiros e das graças divinas dos segundos, a vontade de subir ao cume, embora diferente, mantém-se. Porém, a solução - o por onde e como subir- continua frustrada até aos nossos dias. Por razões da técnica, do dinheiro, ou tão só, das vistas curtas de quem manda.
Devo desde já esclarecer que esta proposta, embora original na sua formulação global, resulta da conjugação de várias contribuições alheias.
Uma, do Arquitecto José Tudella, que propunha um percurso semelhante ao que se apresenta, utilizando um funicular como meio de transporte; a outra, avançada pelo Arquitecto Silva Dias, que utilizava as escadas rolantes para um percurso com origem no Martim Moniz. Eu limitei-me a juntar o que me pareceu melhor em cada uma: um acesso ao Castelo, por escadas rolantes, a partir da Rua dos Fanqueiros. O que permitiu, em minha opinião, resolver alguns dos problemas que qualquer delas, isoladamente, apresentava.
Depois, foi a confirmação prática da viabilidade da proposta. A norte da cidade de Barcelona, uma urbanização designada "Cidade Meridiana", foi construída nos anos 70, ao longo de um vale cavado. Pois as íngremes encostas, que os moradores tiveram que subir durante anos por penosas escadarias de pedra, são agora facilmente vencidas por troços ao ar livre de escadas rolantes.

Em plena Baixa Lisboeta, no topo poente da Rua da Vitória existe um prédio cuja entrada se distingue das restantes: é um semicírculo. Trata-se da entrada para a estação de Metro Baixa-Chiado. As suas escadas rolantes não só permitem aceder ás duas linhas do Metro, a um nível inferior, como também "subir o Chiado".
Imagine agora o leitor que chegou até aqui de Metro e pretende subir ao Castelo. Sai da estação e na sua frente tem a Rua da Vitória. No seu extremo, já na Rua dos Fanqueiros, observa o edifício com o nº 174, de momento, sem qualquer característica particular. Imediatamente por detrás dele, a um nível superior, facilmente distingue um outro; um pouco mais atrás e acima, observa ainda mais alguns e finalmente, empoleirada sobre todos eles, majestosa e inacessível, apercebe-se da muralha do Castelo.
Como lá chegar? Da mesma forma que na colina oposta do Chiado: de escadas rolantes. Por onde? Pelo percurso que a seguir iremos descrever.

Imagine então que nesse prédio, o nº174, se abre também, qual irmã gémea da estação fronteira, uma entrada em semicírculo. Pois será por ela que entrará para um pequeno átrio, no qual encontrará as primeiras escadas rolantes do percurso. Nelas atravessará, subindo, os dois edifícios atrás descritos, adossados e a níveis diferentes, até ao local onde a Rua da Madalena atinge o seu ponto mais elevado: o Largo do Caldas ou Adelino Amaro da Costa. Pelo caminho poderá comprar uma sanduíche para o trajecto, numa das várias lojas existentes nesses prédios, agora remodelados.

Já de novo no exterior, cruzará o Largo em diagonal, percorrendo a pé, pois claro, mas quase de nível, os 100 metros que o separam do edifício do ex-mercado do Chão do Loureiro. Se reparar, ao lado dele existe uma escadaria de pedra, de dois lanços em ângulo recto, dando acesso à Rua da Costa do Castelo pela Calçada Marquês de Tancos. Escada essa, “melhor de descer do que subir”, pois para chegar ao cimo terá que galgar 116 degraus.
Para o evitar, disporá agora de mais um troço de escadas rolantes, também ao ar livre, colocada entre ela e o edifício do ex-mercado.

Atingida a Rua da Costa do Castelo, tem na sua frente, entre o prédio nº28 e o nº 30, um logradouro privado, por onde, ao fundo, um pouco de esguelha, vislumbra a muralha. Parece estar logo ali, ao alcance da mão. Mas, elevando o olhar, repara que o seu topo continua ainda a uma altura medonha. Como chegar ao alto?
Aqui, o leitor utilizará uma das duas alternativas que, neste momento, ainda não é possível tomar, pois depende dos custos de construção e dos impactos físicos e paisagísticos que provoque.
Ambas as soluções reiniciam a subida por escadas rolantes, através de uma abertura a praticar no muro do logradouro, atravessando-o até atingir o sopé da muralha.
Aí chegado, haverá então duas hipóteses. Ou o leitor alcança o cimo através de mais alguns lanços de escada rolantes adossados à muralha, ou continua em frente, por um acesso subterrâneo, sob a muralha e o subsolo do Castelo, até emergir no centro da esplanada ou terreiro.

E eis que, ao fim de algum tempo, talvez tanto quanto nos demorou a descrever o trajecto, o leitor estará finalmente na Praça de Armas do Castelo de S. Jorge, olhando a cidade a seus pés. Acaba o leitor de percorrer 230 metros na horizontal e de subir 76. Isto, no caso de ser turista, porque se morar numa zona intermédia da colina, já estará provavelmente em casa.
O percurso descrito é o ascendente, mas é possível completá-lo com o descendente, sendo claro que o turista será sempre incentivado a descer a encosta pelo seu próprio pé, pelos trajectos tradicionais de Alfama ou Mouraria.


2004-11-19
GAC

# - publicado em PÙBLICO de 2005-03-03

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