Sunday, May 14, 2006

Hospital para o Seixal

Eis as peças da tal história tristemente exemplar, retiradas do «site» 'Setúbal na Rede' (na primeira noticia-se, na segunda faz-se um comentário):

Escola do Porto aponta hospital do Seixal como melhor solução
Por Cláudia Monteiro - 11-05-2006 18:17

As autarquias do Seixal, Sesimbra e Almada e a Comissão de Utentes de Saúde vieram hoje “felicitar a população destes concelhos e todos os que se manifestaram contra o alargamento do Hospital Garcia de Orta (HGO), em Almada, ao invés de uma nova unidade no Seixal”. Uma “luta que valeu a pena”, pois a Escola de Gestão do Porto (EGP), responsável pelo estudo sobre os hospitais prioritários a construir, “recuou na sua posição inicial” e veio agora concordar que a “construção de um hospital no concelho do Seixal é a melhor solução”, refere o presidente da Câmara do Seixal, Alfredo Monteiro.
A adenda ao relatório final apresentada pela EGP “prova a razão que assistia a todos aqueles que lutaram em defesa de uma unidade hospitalar no Seixal”, frisa o presidente da Assembleia Municipal de Almada. José Maia apela ainda ao Ministro da Saúde que “não se esqueça das obras e investimentos de que o HGO necessita” para que continue a ser o hospital de referência do distrito.
José Sales, da Comissão de Utentes de Saúde do Seixal, sublinha que “houve um autêntico recuo por parte da EGP”, que não teve outra alternativa senão reconhecer que existe um “défice de acessibilidades para uma parte da população (sobretudo do Seixal e de Sesimbra) ao HGO”, agravado nas horas de ponta, mesmo no que toca à auto-estrada (A2). José Maia lembra ainda que o HGO “pode estar a 10 quilómetros do centro do Seixal, mas em tempo equivale a 100 quilómetros”, distância inflacionada para “300 quilómetros no que toca a Sesimbra”, garante a Vice-presidente desta câmara, Felícia Costa.
José Sales critica ainda o facto de na adenda se referir que “65 por cento da população do Seixal reside em duas freguesias (Amora e Corroios) e que, por estarem próximas do HGO, optariam por este e não pelo hospital do Seixal”, salientando que mais uma vez se “esquece o problema das acessibilidades”. José Maia vai mais longe e diz mesmo que “se o novo hospital tiver os serviços necessários para a população”, até para os “habitantes do Laranjeiro (concelho de Almada) ficará mais acessível que o HGO”.
Alfredo Monteiro continua a defender que o hospital do Seixal “funcionará em rede com o HGO”, preconizando-se uma “unidade hospitalar de proximidade”, com serviços comuns ao HGO e “ambulatório, reabilitação, materno-infantil e hospital de dia”. O número de camas deste hospital “não está ainda definido”, mas esta unidade hospitalar “não será nem pequena nem grande”, terá sim de “ser adequada às necessidades da população”, esclarece o edil. Revela ainda que o próximo passo “é o calendário que este hospital vai ter” e que um “grupo de trabalho será constituído até ao final do ano”.
As autarquias e restantes envolvidos são também unânimes no que toca à necessidade de “continuar a lutar e pressionar o Governo para a concretização deste hospital”, até porque o documento apresentado pela EGP é “habilitador de decisão política, mas não é uma decisão política em si”, alerta José Maia. O presidente da Assembleia Municipal de Almada sublinha ainda os “dois ou três centros de saúde que a adenda propõe como complemento ao hospital”.
Alfredo Monteiro recorda os “muitos anos de persistência e trabalho, envolvimento da população, reuniões com ministros, as 65.000 assinaturas ou o cordão humano em defesa do hospital no concelho do Seixal”. Um hospital com “boas acessibilidades, junto ao nó do Fogueteiro”, e com, um “terreno público de 80 hectares, área mais do que suficiente” para este hospital que visa “aliviar a pressão e descongestionar o HGO” e servir não só a população do Seixal, mas também a de Sesimbra, com grandes carências a nível de cuidados de saúde.

Saúde
por Joaquim Judas
(Médico)

Na Assembleia Metropolitana da Área Metropolitana de Lisboa: PS e PSD contra hospital no Seixal. BE abstém-se.
Em Fevereiro do ano corrente foi colocado em debate público o Relatório Final do Estudo, realizado pela Escola de Gestão do Porto, de Avaliação de Prioridades de Investimento com o objectivo de apoiar o processo de decisão, ao nível político, quanto à sequência estratégica de implementação dos hospitais inseridos na 2ª vaga do Programa de Parcerias para o sector hospitalar.
Durante o debate público pronunciaram-se pela construção de um hospital de raiz na zona de Amora/Fogueteiro, no concelho do Seixal, as Assembleias Municipais de Almada, Seixal e Sesimbra; as Câmaras Municipais do Seixal e de Sesimbra e a Assembleia Distrital de Setúbal. No mesmo sentido milhares de cidadãos enviaram e-mail ao Ministério da Saúde e mais de dez mil pessoas reuniu-se em torno da Baía do Seixal, num Cordão Humano que culminou com um pedido de entrevista com o Ministro da Saúde subscrito pelas Comissões de Utentes da Saúde e pelos Presidentes das Câmaras e Assembleias Municipais de Almada, Seixal e Sesimbra.
No dia 8 de Abril, o Congresso do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses reunido em Coimbra aprovou uma moção em que exige que “o Ministério da Saúde/Governo, mantenha o compromisso com a população dos Concelhos de Almada, Seixal e Sesimbra de construir um novo hospital na margem sul do Tejo onde a população tenha, em condições de segurança mínimas, o direito à saúde inscrito na Constituição da República Portuguesa”.
No passado dia 10 de Abril reuniu em Sessão Ordinária a Assembleia Metropolitana da Grande Área Metropolitana de Lisboa. Esta Assembleia é o órgão deliberativo da Área Metropolitana de Lisboa. As Áreas Metropolitanas têm, entre outros fins, o de coordenar actuações entre os municípios e os serviços da administração central na área da saúde. A Assembleia Metropolitana tem, entre outras, a competência de aprovar planos, projectos e programas de investimento e desenvolvimento a propor ao governo. Os membros da Assembleia são eleitos entre todos os membros das Assembleias Municipais da Área Metropolitana de Lisboa.
Uma tomada de posição em apoio da construção de um novo hospital na zona de Amora/Fogueteiro, conforme com o largo consenso político até aí manifestado por todos os partidos, nos órgãos autárquicos e nas iniciativas públicas, era o mínimo que se poderia esperar da Assembleia Metropolitana. Para além disso seria também fundamental que esta desse inicio a um processo de acompanhamento sistemático do desenvolvimento da rede de equipamentos de saúde na Área Metropolitana. Mas não foi isso que aconteceu!
A moção apresentada pelos eleitos da CDU (PCP/PEV), propunha:
“A Assembleia Metropolitana da Área Metropolitana de Lisboa:
Manifesta o seu apoio às populações e autarcas dos concelhos de Almada, Seixal e Sesimbra e propõe a que seja dada uma adequada resposta às suas necessidades de cuidados hospitalares, que inclua o alargamento do Hospital Garcia de Orta e a construção de um novo hospital de raiz na área de Amora/Seixal, tal como preconizado na proposta de Plano Director Regional do Equipamento de Saúde da Região de Lisboa e Vale do Tejo.
Solicita à Mesa da Assembleia Metropolitana o agendamento de uma reunião com o Governo para informação sobre o desenvolvimento da rede de equipamentos de saúde na Área Metropolitana de Lisboa.
Solicita à Junta Metropolitana que desenvolva diligências no mesmo sentido.
Solicita à Comissão Permanente de Coesão Social o acompanhamento das questões relacionadas com o desenvolvimento da rede de Equipamentos de Saúde na AML.”
Mas foi derrotada. A favor votou a CDU (PCP/PEV); contra votaram o PS e o PSD; o BE absteve-se, ao seu lado teve o voto de abstenção de deputados do PS e do PSD que são oriundos da Assembleia Municipal do Seixal.
A votação na Assembleia Metropolitana de Lisboa é profundamente esclarecedora porque:
Identifica os Partidos da coerência (PCP e PEV), aqueles em quem o povo pode confiar, aqueles que defendem em todo o lado a mesma posição.
Identifica os Partidos em quem não se pode confiar (PS, PSD e BE), aqueles que não defendem a mesma posição em todo o lado.
Explica o motivo da resistência dos governos do PSD e do PS à construção de um hospital de raiz na zona de Amora/Fogueteiro apesar de essa ser a melhor solução técnica.

Quatro notas finais:
Só a luta das populações pode levar à construção de um novo hospital público na Margem Sul.
Se não houver hospital público haverá lugar para um hospital privado, com tudo o que isso significa de acréscimo de encargos e dificuldade de acesso para as populações.
Não quero acreditar que as dificuldades levantadas pelo PS, PSD e BE à construção de um hospital público tenham no horizonte um hospital privado.
Não acredito em bruxas...mas lá que as há, há.

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