Sindicato dos Jornalistas repudia tentativa de despedimento no “Público”
O Sindicato dos Jornalistas (SJ) repudia a tentativa de despedimento, "eufemisticamente apresentado como rescisão por acordo mútuo", de dezenas de jornalistas e outros trabalhadores do jornal "Público". Lembra o SJ que a empresa pertence ao grupo Sonae, que tem um "elevado potencial financeiro, que lhe permite suportar as dificuldades e organizar planos de recuperação sem sacrificar postos de trabalho e sem atingir a dignidade das pessoas ao seu serviço".
O SJ, em comunicado divulgado na noite de 24 de Setembro, afirma que no dia 25 os trabalhadores constantes de uma lista ainda desconhecida na sua totalidade começarão a ser confrontados pela direcção da empresa com propostas de rescisão de contratos.
Os trabalhadores em causa foram avisados na sexta-feira, 22, dia em que a empresa distribuiu um comunicado em que anuncia "uma política de renovação e de reestruturação", que tem como um dos objectivos "reduzir os custos fixos em 15 por cento" (comunicado incluído, na íntegra, no final desta notícia),
Lembra o SJ que nenhum jornalista é obrigado a aceitar de imediato qualquer proposta de rescisão e que "todos têm direito a um prazo razoável para reflectirem sobre ela, e, especialmente, todos têm direito a rejeitá-la".
É o seguinte, na íntegra, o texto do comunicado do Sindicato dos Jornalistas:
SJ condena despedimentos no "Público"
1. Um conjunto de jornalistas e outros trabalhadores ainda em número indeterminado, mas que se receia possa ser significativo, começa a reunir-se amanhã, dia 25, com responsáveis do jornal "Público", propriedade do poderoso grupo Sonae, com vista ao seu despedimento, através de um processo que o Sindicato dos Jornalistas condena inequivocamente, por afrontar o respeito pela dignidade desses profissionais.
2. Como tem repetido noutras ocasiões e em relação a outras empresas, o SJ lamenta os efeitos graves dos processos de emagrecimento das redacções mas exige que eles respeitem os princípios da livre negociação das rescisões. As empresas são livres de iniciar processos de redução da sua mão-de-obra através de adesões voluntárias, ou seja, por adesão do próprio trabalhador a um programa que contenha uma base inicial de negociação. Assim como são livres os jornalistas de, face a uma oferta "geral e abstracta" do programa de rescisões e no seu próprio interesse (vontade de iniciar outro projecto de vida, por exemplo), considerarem essa "oportunidade" e de ponderarem uma eventual negociação.
3. Não é isto, porém, o que está a acontecer no "Público", onde um conjunto significativo de jornalistas foi confrontado, anteontem, dia 22, com a informação de que constavam de uma lista de trabalhadores a dispensar e de que deveriam apresentar-se, em determinado dia e a determinada hora, em reuniões com um elemento da Administração e uma responsável dos Recursos Humanos, a fim de lhes ser apresentada a proposta de rescisão.
4. É provável que os responsáveis da empresa venham argumentar que se trata apenas de uma proposta de rescisão por mútuo acordo, podendo mesmo acrescentar que os jornalistas abordados poderão negociá-la e até recusá-la. Mas a realidade mostra que estamos de facto perante uma tentativa de despedimento, eufemisticamente apresentado como rescisão por acordo mútuo, e que evidencia a brutalidade do processo e das suas consequências.
5. Esse processo consiste na colagem de um rótulo de "dispensável" à pele de um conjunto de profissionais cujo único crédito é o nome, ofendendo a sua dignidade, produzindo o efeito de um ferrete na sua imagem e prestígio pessoais e profissionais.
6. É sabido que a empresa do grupo Sonae (cujo poder económico se não questiona tendo em conta as suas conhecidas ambições expansionistas) pretende reduzir em 15% os custos fixos. Mesmo que a empresa invoque a legitimidade do objectivo de redução de custos, tal não ilude o facto de se inserir num grupo com elevado potencial financeiro, que lhe permite suportar as dificuldades e organizar planos de recuperação sem sacrificar postos de trabalho e sem atingir a dignidade das pessoas ao seu serviço.
7. Nestes termos, o Sindicato dos Jornalistas apela à empresa, para que cesse imediatamente qualquer abordagem individual com vista ao despedimento de jornalistas e outros trabalhadores, mesmo sob a capa de "rescisão por mútuo acordo" e procure discutir com os seus representantes, nomeadamente o SJ, soluções para os problemas que afirma ter.
8. O Sindicato apela também aos jornalistas ao serviço do "Público" (os que estão na lista de "dispensáveis", os que dela podem vir a constar e os que tenham a sorte de nela não serem incluídos), para que se mantenham unidos na defesa dos postos de trabalho agora ameaçados, e também na defesa e na recuperação de um jornal que também é seu e que um novo emagrecimento pode vir a prejudicar.
9. O SJ transmite aos jornalistas que a empresa pretende atingir a sua mais firme solidariedade, disponibilizando-lhes todo o apoio possível, tanto ao nível sindical como jurídico, e aconselha à maior prudência na atitude perante a "oferta" da empresa. Nenhum jornalista é obrigado a aceitá-la de imediato; todos têm direito a um prazo razoável para reflectirem sobre ela, e, especialmente, todos têm direito a rejeitá-la.
Lisboa, 24 de Setembro de 2006
A Direcção
É o seguinte, na íntegra, o comunicado da Direcção de Empresa do "Público":
PÚBLICO prossegue política de renovação e reestruturação
A persistência dos factores negativos que têm vindo a afectar a imprensa diária, tanto em Portugal como no mundo desenvolvido – perda de circulação e quebra nas receitas publicitárias –, assim como os maus resultados registados no primeiro semestre de 2006 (EBITDA negativo de 2,66 milhões de euros), levaram a direcção do PÚBLICO a anunciar, antes do Verão, que a remodelação gráfica que estava a ser preparada para início de 2007 implicaria o que foi designado como uma verdadeira "reinvenção" do jornal, a qual passará por profundas alterações no modo de funcionamento, organização e estruturas da empresa PÚBLICO.
O trabalho desenvolvido desde então, que implicou questionar as soluções editoriais e organizacionais tradicionais, assim como todo o modelo de negócio, foi orientado para garantir e melhorar o que é central no PÚBLICO – a qualidade da informação que produz –, ampliar os seus canais de difusão, designadamente na Internet, onde é o site de informação líder e as suas receitas estão a crescer a um ritmo superior a 30 por cento ao ano, responder às necessidades de leitores cada vez mais exigentes, tirar o melhor partido das tecnologias hoje disponíveis, optimizar todos os processos e chegar a uma estrutura de custos e receitas que garanta a sustentabilidade da empresa numa época em que se anuncia o fim da imprensa escrita tal como hoje a conhecemos.
A Direcção da Empresa, num trabalho em que se envolveram os principais quadros do PÚBLICO e o accionista, desenhou um plano para a reformulação do jornal e do seu site, aprovou a nova estrutura da empresa e tomou as primeiras medidas destinadas a reduzir os custos fixos em 15 por cento. Este plano de redução de custos abarca todas as áreas, incluindo uma redução negociada do quadro de pessoal, a qual já permitiu rescindir contratos com cinco por cento do total de trabalhadores existentes no final de 2005.
Em paralelo, a reinvenção do jornal e o seu relançamento no início de 2007, implicou investimentos que já estão em curso ou em fase de aprovação, deles devendo resultar já em 2007 um aumento das receitas capaz de contribuir para o regresso do PÚBLICO a resultados de exploração positivos logo nesse ano.
A Direcção de Empresa do PÚBLICO
22 de Setembro de 2006
Pode ler mais em:
http://www.jornalistas.online.pt/noticia1.asp?id=4961&idCanal=539&currPos=0
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