Saturday, July 04, 2009

Editorial

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Anda no ar muito nervosismo. No Governo. No PS. No PSD. No BE. Na AR. Na CML. E anda no ar muito frenesim eleitoral. No que se refere ao Governo, sem dúvida tudo corre mal a Sócrates nos últimos tempos, depois das europeias, fazendo jus à lei de Murphy agora muito referida: tudo o que pode correr mal, correrá mal ou ainda pior...
Isso ou coisa semelhante acontece em muitas instituições dirigidas pelo PS, mas para mim, no que ora me interessa, também na CML. E não necessariamente só por causa das autárquicas - e isso já não seria pouca causa. Eu explico: em meu entender, quando António Costa diz coisas como «o Executivo (leio: o Governo) cometeu estas gaffes assim e assim» (a propósito do Terreiro do Paço, a propósito da Polícia, a propósito da Terceira Travessia do Tejo ou - caso mais notado e mais comentado recentemente - a propósito da composição da administração do Metro, já sem CML), acho que está a dizer muitas coisas:
1º - quero marcar terreno nestas matérias antes que alguém (leia: Santana, concorrente directo, em seu entender) apareça a levantar estas bandeiras;
2º - quero deixar bem claro que me junto a Carmona nesta crítica - Carmona que pode ajudar a sossegar-me se se candidatar, portanto há que dar-lhe algum gás;
3º - quero deixar bem claro que aquela coisa de Santana de andar agora a dizer que me importo mais com o Governo do que com a Câmara é uma falsidade;
4º - quero que os mais subtis entendam que sou autónomo bastante relativamente ao Sócrates para me manter com margem de crítica em relação ao Governo - apesar de Sócrates, apesar do PS;
5º _ quero deixar um leve rasto que indique a quem me interessa que assim leia que estou por aqui para o que der e vier, ou seja: imaginando que Sócrates - como alguns me dão a entender - não aceita governar sem maioria absoluta, há que estar preparado para tudo, isto é, se Cavaco tiver de deixar formar governo ao PS sem Sócrates, que remédio tem se não aceitar-me a mim - pesem embora razões fortes como o caso Santana em 2004 (mas este seria um caso constitucionalmente totalmente diferente) ou como o caso de Santana que abandonou a Câmara sem amis nem menos (o que eu próprio terei de fazer se São Bento me chamar) ou ainda aquela pecha mesquinha de não ser deputado.
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Volto ao meu comentário: anda muito nervosismo no ar, anda muito frenesim no ar.
Por exemplo: o balanço que Costa divulgou anteontem e os meios de que se serviu para isso (um deles o mail oficial para todos os funcionários... quando sabemos que o PCP tem sido indevidamente impedido de usar esse meio para matérias de mantado e não de luta eleitoral) não me parecem boas marcas. Podem dizer e que o balanço é acção normal da autarquia - e até devia ser. Mas não foi assim nunca no mandato. Nunca com este enfoque. Podem dizer-me que é do interesse dos funcionários saber isto. E é, desde que haja contraditório. Mas o que todos ficam a pensar, dentro e fora da Câmara, é que se trata de campanha. É só ver os títulos e as comparações Costa/Santana, tipo campeonato: quer mais um túnel ou mais um elevador? E depois a Carta Estratégica. E depois o debate sobre o Terreiro do Paço - como se de repente tudo fosse urgente. (E é).
Acho que este ambiente e estes modelos não são o melhor para a pré-campanha.
Ainda vamos ver fazer mais asneiras. Mais tiros no pé.
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Uma nota.
Mesmo apenas do ponto de vista da contabilidade dos votos: de cada vez que Costa se mete com um ministro, pergunto: não estará a perder uns votos aqui outros ali - e, no fim, todos fazem falta. Afinal António Costa é uma das mais proeminentes figuras do PS, não é? E portanto acho normal que que as pessoas do PS não adorem ver um dos seus contra outros dos seus. Digo eu.
Como alguém (dessas pessoas do PS) me dizia há 36 horas: a acontecer, não será Ferreira Leite que ganhará mas sim Sócrates que perde as eleições. Com Costa pode acontecer o mesmo. Espero bem que não. Mas às vezes penso que está mesmo a pedi-las.
Obra, pouca. Palavras, muitas.
Estou convencido de que, no que toca à CML, ainda é tempo de arrepiar caminho.
Mas não com posturas destas últimas: parecem-me demasiado artificiais e desconexas em relação ao resto do pequeno mandato de que estamos a sair.

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