O último acto de Carrilho
«Câmara Municipal de Lisboa
Vereador Manuel Maria Carrilho
Declaração
A seguir às eleições autárquicas de Outubro de 2005, honrando um compromisso com os lisboetas, assumi o cargo para que fui eleito na Vereação da Câmara Municipal de Lisboa.
Fi-lo sem hesitações, conduzido pelo sentido de responsabilidade cívica e de humildade democrática que sempre orientaram a minha actividade política.
Fi-lo, também, em coerência com as profundas preocupações que tinha e tenho em relação ao futuro da nossa cidade, fruto dos contactos que desde a preparação da minha candidatura mantive com diversos especialistas em políticas urbanas e, no terreno, com a sociedade civil em geral e com tantos lisboetas em particular.
Passou entretanto mais de um ano, rico de factos e de experiências, durante o qual procurei compatibilizar, até ao limite do possível, as funções de vereador (sem pelouros e sem salário) com as exigências de ser deputado à Assembleia da República, onde, além de ser Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PS, sou também membro da Comissão de «Assuntos Europeus».
Contudo, as constantes sobreposições de reuniões, de votações, de sessões, etc. (1) da Assembleia da República e do Parlamento dificultaram muitas vezes a compatibilização destes dois mandatos, de uma forma que, feito o balanço de 2006, tudo indica que vai continuar.
Nestas condições - e porque não posso aceitar que a repetida distorção desta realidade ponha em causa o sentido de responsabilidade com que tenho exercido o mandato de vereador na CML e desvie o debate político daquilo que é realmente essencial para a cidade - considero que se me impõe uma opção.
Esta opção foi feita, e ela levou-me a, nos termos da lei, entregar ao Sr. Presidente da Câmara Municipal de Lisboa uma declaração de renúncia ao mandato de vereador.
Tenho plena consciência que esta decisão tem lugar num momento grave para a cidade, em que se multiplicam os sinais de incapacidade do executivo em funções para resolver os mais prementes problemas de Lisboa, consolidando a ideia que a nossa capital continua sem estratégia nem liderança.
Termino o meu mandato na convicção que fiz tudo o que estava ao meu alcance para assegurar o que a política tem de mais nobre: o serviço público.
E também com a certeza que a visão política com que o Partido Socialista concorreu às eleições de Outubro de 2005 garantirá - com o empenho dos eleitos locais do PS - o exercício de uma oposição construtiva e eficaz por parte da Vereação Socialista.
Cumpre-me deixar, por fim, uma especial palavra de apreço aos funcionários da CML bem como a todos os lisboetas que, individualmente ou em nome de organizações da sociedade civil, nos fizeram chegar, desde o início do mandato, contributos e palavras de encorajamento.
Lisboa, 10 de Janeiro de 2006
Manuel Maria Carrilho
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(1) Para lá das sessões "públicas" da CML, que coincidem sempre com as sessões plenárias do Parlamento, são inúmeras as sobreposições que só o dom da ubiquidade permitiria ultrapassar: basta lembrar as recentes votações do Orçamento de Estado ou da Lei das Finanças Regionais, ou ainda os debates mensais com o Primeiro-Ministro».
1 comment:
Publicar isto é mesmo gastar bytes com ruins defuntos...
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