Sunday, August 30, 2009

Portugueses votam em quê?

(Tratamento meu, JCM)


O que mais vai influenciar os portugueses na hora de votar?

Por Margarida Gomes e José Augusto Moreira

Com a campanha a subir de tom, estudiosos do fenómeno político explicam como é que os eleitores fazem as suas escolhas


A credibilidade e as questões sociais parecem constituir os factores que mais poderão influenciar a escolha dos eleitores. Esta é, pelo menos, a perspectiva da maioria dos estudiosos do fenómeno político ouvidos pelo PÚBLICO. Partindo de um leque de sete temas que têm dominado a cena política, as personalidades que aceitaram o desafio de reflectir sobre a matéria acabam por concentrar-se em apenas dois ou três, sempre com o tema da credibilidade a falar mais alto. E nem só com enfoque nos líderes e candidatos, também numa perspectiva alargada que abarca os partidos e o próprio sistema político.
Além da questão da credibilidade, que há muito domina o debate político, não só por razões conjunturais como o caso Freeport ou a inclusão nas listas de candidatos a deputados figuras a contas com a Justiça, mas também pela crescente degradação da vida partidária, foram lançados outros temas. Do desemprego à segurança e justiça passando pela recuperação económica. Também o papel do Presidente da República e os chamados "temas fracturantes" faziam parte do leque de propostas, tendo os especialistas incluído entre as questões determinantes outras variantes, como a tendência de punição ao executivo em funções.
Tanto Manuel Villaverde Cabral, do Instituto de Ciências Sociais (ICS), como Carlos Abreu Amorim, da Escola de Direito da Universidade do Minho, entendem que o factor credibilidade será o mais importante, enquanto o politólogo Pedro Adão e Silva, que colaborou na elaboração do programa do PS, prefere acentuar os temas sociais onde, sem esquecer o desemprego, chama a atenção para áreas como a saúde, a educação e a protecção social. António Costa Pinto, outro docente no ICS, valoriza as matérias ligadas à credibilidade, mas coloca o enfoque na análise à personalidade dos candidatos. Já o politólogo Adelino Maltês diz que há uma "santíssima trindade da política" que é determinante em termos eleitorais e engloba as áreas da justiça, bem-estar e segurança, enquanto para o advogado, músico e colaborador do Bloco de Esquerda Miguel Guedes "a questão da credibilidade não se resolve em eleições, mas sim entre elas", elegendo antes o desemprego como "o debate fulcral". Finalmente o especialista em História Social e Contemporânea da Faculdade de Letras da Universidade do Porto Manuel Loff considera ser "irrazoável pensar num factor exclusiva ou maioritariamente explicativo do comportamento dos eleitores", pelo que prefere apontar o que designa por "um impulso castigador do grupo/líder político que está no Governo" como o aspecto que mais pode condicionar o voto.
A evolução do desemprego parece não pesar na análise destes especialistas, o mesmo acontecendo com a justiça, aparentemente assunto gasto e sobre o qual os eleitores já pouco ou nada esperam. Em contrapartida, as preocupações com a segurança têm ainda algum peso, mas sem a relevância que assume noutros países europeus, onde as questões da xenofobia e imigração estão mais presentes.
Talvez pela novidade, as questões fracturantes, como a mudança nas leis do divórcio, eutanásia ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, parecem dividir igualmente as opiniões dos especialistas. Quanto às políticas para a recuperação económica, os académicos acabam por concluir que a sua importância acaba por ser secundarizada face à avaliação que o eleitorado faz sobre a credibilidade dos proponentes.
Numa coisa todos parecem convergir: o ambiente de crispação entre a presidência da república e o partido que suporta o Governo não deverá ser muito valorizado pelos portugueses na hora de votar.

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