12.08.2009, Ana Henriques - 'Público'
Limpeza de hectare e meio de terreno custou quase 50 mil euros, serviço que foi adquirido sem recurso a concurso público
A Perto de 50 mil euros foi quanto custou à Câmara de Lisboa a limpeza de parte de um terreno em Campolide para plantar girassóis e, daqui a algum tempo, cereais. O serviço foi entregue a uma empresa privada, a Vibeiras, sem concurso público.
O sucesso da experiência não se tem até aqui revelado famoso: viçosas durante cerca de mês e meio, as flores plantadas na Quinta do Zé Pinto estão neste momento ressequidas e feias. Assim ficarão mais um mês, até serem ceifados para a produção de óleo alimentar. "Em meados de Julho deixámos de as regar", explica o dirigente da Associação Nacional de Produtores de Cereais e Oleaginosas, Bernardo Albino. O presidente da associação, que é parceira da autarquia na iniciativa, diz que o seu objectivo nunca foi embelezar esta zona da cidade, mas sim desenvolver uma experiência pedagógica ligada à produção agrícola. Daí que há um mês os girassóis tenham sido deixados morrer à sede: "Se continuassem a ser regados ainda podiam manter-se mais duas ou três semanas verdes. Mas esse não é o seu ciclo natural de vida."
Não foi bem isso que disse o vereador dos Espaços Verdes, José Sá Fernandes, quando ajudou a fazer a sementeira. O autarca explicou na altura que queria também criar "um terreno bonito para as pessoas poderem passear", a "custo zero". Acontece que o terreno se manteve vedado até hoje, e que a EPUL - Empresa Pública de Urbanização de Lisboa gastou perto de 50 mil euros na sua limpeza, que entregou à Vibeiras por ajuste directo. Um facto que Sá Fernandes garante desconhecer.
Land art à parte, quantas escolas visitaram, afinal, o local? Bernardo Albino hesita, dando a entender que a vertente pedagógica do projecto não está, ainda, totalmente consolidada. O primeiro número de telefone para marcação de visitas escolares que apareceu num cartaz colocado no local era de Évora, da Confederação Agrícola de Portugal. Foi depois substituído por um número de telemóvel pertencente à Associação de Produtores de Bovinos de Raça Alentejana.
Bernardo Albino acaba por dizer que a produção de girassóis foi visitada por umas dez escolas. Um dado que é desmentido pelo presidente da Junta de Freguesia de Campolide, o social-democrata Jorge Santos: "Só lá foram miúdos uma vez, ver terra batida com sementes plantadas." O autarca mostra-se indignado com os perto de 50 mil euros gastos e chama "aldrabão" a Sá Fernandes, por este ter andado a dizer que a iniciativa não teria custos para a câmara. "O projecto é um perfeito disparate", prossegue Jorge Santos. "Se a câmara me desse 50 mil euros eu mandava limpar tudo e ainda ficava com 30 mil."
Apesar de a Quinta do Zé Pinto ser de maiores dimensões, apenas foi limpa uma área de hectare e meio, correspondente à zona onde foram plantadas as flores. Uma opção que, tal como o fim da rega, é criticada por quem ali mora ao pé. Criada na província, Lurdes Azevedo, uma costureira reformada cuja casa dá para o campo de girassóis secos, acha que alguma coisa correu mal: "Isto foi plantado fora de tempo. É por isso que ficou assim."
Já o presidente da Junta de Freguesia de Campolide tenciona apresentar uma moção na Assembleia Municipal de Lisboa no mês que vem a pedir responsabilidades ao vereador dos Espaços Verdes. Para Jorge Santos, se o terreno tivesse sido cedido aos moradores dos bairros do Tarujo e Padre Cruz para hortas sociais estes teriam feito a sua limpeza a custo zero e as crianças poderiam seguir de perto o "fabrico" dos legumes que comem em casa: couves, alfaces, tomates.
Participar neste projecto - o que incluiu acabar os trabalhos de limpeza do terreno e semear os girassóis - custou à Associação de Produtores de Cereais e Oleaginosas cerca de oito mil euros. Bernardo Albino frisa que o trabalho não fica por aqui: a partir do Outono será plantado trigo e eventualmente cevada. "Antes de ser limpo, o terreno tinha entulho, que era descarregado clandestinamente à noite", relata.
O sucesso da experiência não se tem até aqui revelado famoso: viçosas durante cerca de mês e meio, as flores plantadas na Quinta do Zé Pinto estão neste momento ressequidas e feias. Assim ficarão mais um mês, até serem ceifados para a produção de óleo alimentar. "Em meados de Julho deixámos de as regar", explica o dirigente da Associação Nacional de Produtores de Cereais e Oleaginosas, Bernardo Albino. O presidente da associação, que é parceira da autarquia na iniciativa, diz que o seu objectivo nunca foi embelezar esta zona da cidade, mas sim desenvolver uma experiência pedagógica ligada à produção agrícola. Daí que há um mês os girassóis tenham sido deixados morrer à sede: "Se continuassem a ser regados ainda podiam manter-se mais duas ou três semanas verdes. Mas esse não é o seu ciclo natural de vida."
Não foi bem isso que disse o vereador dos Espaços Verdes, José Sá Fernandes, quando ajudou a fazer a sementeira. O autarca explicou na altura que queria também criar "um terreno bonito para as pessoas poderem passear", a "custo zero". Acontece que o terreno se manteve vedado até hoje, e que a EPUL - Empresa Pública de Urbanização de Lisboa gastou perto de 50 mil euros na sua limpeza, que entregou à Vibeiras por ajuste directo. Um facto que Sá Fernandes garante desconhecer.
Land art à parte, quantas escolas visitaram, afinal, o local? Bernardo Albino hesita, dando a entender que a vertente pedagógica do projecto não está, ainda, totalmente consolidada. O primeiro número de telefone para marcação de visitas escolares que apareceu num cartaz colocado no local era de Évora, da Confederação Agrícola de Portugal. Foi depois substituído por um número de telemóvel pertencente à Associação de Produtores de Bovinos de Raça Alentejana.
Bernardo Albino acaba por dizer que a produção de girassóis foi visitada por umas dez escolas. Um dado que é desmentido pelo presidente da Junta de Freguesia de Campolide, o social-democrata Jorge Santos: "Só lá foram miúdos uma vez, ver terra batida com sementes plantadas." O autarca mostra-se indignado com os perto de 50 mil euros gastos e chama "aldrabão" a Sá Fernandes, por este ter andado a dizer que a iniciativa não teria custos para a câmara. "O projecto é um perfeito disparate", prossegue Jorge Santos. "Se a câmara me desse 50 mil euros eu mandava limpar tudo e ainda ficava com 30 mil."
Apesar de a Quinta do Zé Pinto ser de maiores dimensões, apenas foi limpa uma área de hectare e meio, correspondente à zona onde foram plantadas as flores. Uma opção que, tal como o fim da rega, é criticada por quem ali mora ao pé. Criada na província, Lurdes Azevedo, uma costureira reformada cuja casa dá para o campo de girassóis secos, acha que alguma coisa correu mal: "Isto foi plantado fora de tempo. É por isso que ficou assim."
Já o presidente da Junta de Freguesia de Campolide tenciona apresentar uma moção na Assembleia Municipal de Lisboa no mês que vem a pedir responsabilidades ao vereador dos Espaços Verdes. Para Jorge Santos, se o terreno tivesse sido cedido aos moradores dos bairros do Tarujo e Padre Cruz para hortas sociais estes teriam feito a sua limpeza a custo zero e as crianças poderiam seguir de perto o "fabrico" dos legumes que comem em casa: couves, alfaces, tomates.
Participar neste projecto - o que incluiu acabar os trabalhos de limpeza do terreno e semear os girassóis - custou à Associação de Produtores de Cereais e Oleaginosas cerca de oito mil euros. Bernardo Albino frisa que o trabalho não fica por aqui: a partir do Outono será plantado trigo e eventualmente cevada. "Antes de ser limpo, o terreno tinha entulho, que era descarregado clandestinamente à noite", relata.
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