Sunday, June 15, 2008

Agruras de Sócrates. Agruras de António Costa

Legislativas em Junho de 2009 e autarquicas logo em Outubro seguinte

Resenha de reflexões de fim-de-semana sobre aquilo que ainda parece ficção científica mas que, dentro de uns meses, todos andaremos a discutir...
1.
Escrito no Carmo e a Trindade, sexta-feira, Junho 13, 2008, aqui:
As agruras de Sócrates e a Câmara de Lisboa

Diz assim:
Há uns quantos observadores que apostam em como Sócrates não se quer recandidatar a Primeiro-Ministro. Eu ainda não tenho dados para o afirmar. Mas já tenho uns laivos de sinais que vão nesse sentido e tornam a hipótese minimamente razoável. E aposto em como, se Sócrates hesitar mesmo, António Costa pensará duas vezes.
Não por causa de Santana. Esse já morreu. Nem Manuela Ferreira Leite ia nessa. Seria o descrédito global do PSD para mais de 20 anos.
Mas por causa de três factores distintos: 1º - a baixa votação que o PS obteve, a que se junta... 2º - o desgaste assustador que Sá Fernandes acarretou (não está a somar nada: está a subtrair); e, 3º - a elevada probabilidade de Carmona e PSD / Ferreira Leite juntarem votações.
Mesmo no melhor dos casos, essas três circunstâncias chegam para dar que pensar a qualquer um.
Mas se a tudo isso juntarmos o caso Sócrates, então a coisa fica mesmo negra ainda.
Falemos então de Sócrates e das razões que tem para eventualmente estar a ponderar não querer sujeitar-se a novo sufrágio:
1º - um forte impedimento de carácter subjectivo: não suportará uma derrota (para o ego dele será derrota obter apenas maioria relativa e ter de negociar e de baixar a garimpa - desculpem a crueza da expressão, mas é disso mesmo que se trata);
2º - um caso específico por ele mesmo dramatizado com grande inabilidade nos últimos dias: o resultado do referendo na Irlanda sobre o Tratado de Lisboa. Foi ele mesmo que disse na AR que o NÃO seria mau para a sua carreira política. Foi ele mesmo que disse hoje que esta é uma derrota pessoal;
3º - o falhanço na economia e nas Finanças. Tanto sacrifício para nada - é o que milhões de portugueses estão a pensar;
4º - o facto de ter muitos sectores contra ele: foram os professores, os médicos, os utentes de serviços de saúde, os autarcas, agora os camionistas, os agricultores, os pescadores... sei lá... manifestações de rua as maiores de sempre da CGTP, os excessos da ASAE que puseram os comerciantes todos em polvorosa - mesmo que saibam que nos davam mixórdias a comer - mas os desgastes eleitorais também vêm por aí, a revolta da Igreja oficial por causa dos ATLs das paróquias e adjacentes - um adversário a ter em conta, em termos eleitorais;
5º - esta solução Ferreira Leite para o PSD: junta os pedaços e pode ser uma surpresa nas urnas.
Tudo junto, só pode ter uma consequência lógica: derrocada eleitoral do Governo. E isso é mais do que a arrogância conhecida de Sócrates aguentaria.

Lisboa
Pelo meio, a Câmara de Lisboa e as soluções PS. Curtas e ainda em incógnita. Claro que a hipótese «desafiar o resto da esquerda para uma unidade face ao perigo da direita» está sempre em cima das mesas de São Pedro de Alcântara e do Largo do Rato. Mas pode não estar noutras mesas, dada a direcção que as coisas estão a tomar cada vez de forma mais preocupante em sede de Paços do Concelho em cada dia que passa...
E uma coisa é certa: com Sócrates a hesitar ou a ser dado cada vez mais como estando a hesitar cada vez mais, coisa que, em termos de grande opinião pública, vem a dar exactamente no mesmo - o que reduz o «élan» do PS em torno de um PS forte e ganhador e, pelo contrário, quebra a dinâmica de vitória; com uma só lista do PSD e no pé em que as coisas estão e pelos vistos continuarão a estar do lado das esquerdas, não sei, não... Mas até acho que sei: tudo isto é já uma grande dor de cabeça acrescida para António Costa também.
É chato ter de escrever isto mesmo ao fechar do dia de Santo António, o dia da Cidade, mas esta é a análise que se me vai impondo com uma nitidez cada vez maior.


2.
Escrito no LisboaLisboa, sexta-feira, Junho 13, 2008, aqui:

Ainda parece ficção científica. Mas daqui por quatro ou cinco meses teremos de equacionar este tipo de coisas e outras...

Diz assim:

Como será com a Câmara de Lisboa se o PS perder a maioria absoluta no País? E se Sócrates não quiser ver-se na contingência de ter maioria relativa e virar as costas? E se, nesse quadro, o PSD com uma lista só para a Câmara de Lisboa?
Eis uma série de novos raciocínios.
Leia o que escrevi sobre essas novas hipóteses, aqui. Por exemplo, que «(...) aposto em como, se Sócrates hesitar mesmo, António Costa pensará duas vezes.Não por causa de Santana. Esse já morreu. Nem Manuela Ferreira Leite ia nessa. Seria o descrédito global do PSD para mais de 20 anos.Mas por causa de três factores distintos: 1º - a baixa votação que o PS obteve; a que se junta... 2º - o desgaste assustador que Sá Fernandes acarretou (não está a somar nada: está a subtrair); e, 3º - a elevada probabilidade de Carmona e PSD / Ferreira Leite juntarem votações. (...)»
.
Actualização
Perguntam-me alguns amigos: «Mas porquê deixar de fora desta análise o movimento de Helena Roseta?»
(Antes de mais pode ler aqui um 'aproach' aos «Cidadãos». Aí se recorda que «em recente jantar de comemoração do primeiro ano do movimento, ficou desde já garantido que este se apresentará de novo a votos "até porque temos de prestar contas aos eleitores"».)
Mas há mais do que isso: entendo que o chamado MIC de Manuel Alegre, mas sobretudo os chamados CPL estão cada vez menos na área do PS. Penso isso por muitas razões que cada vez mais me convencem de que tenho razão desde o início - Junho/Julho de 2007. Desde logo, o afastamento de Ana Sara Brito que integrou a lista de António Costa; depois as ligações directas ao movimento de cidadãos auto-mobilizados, liderado por Manuel João Ramos; mas também a composição do staff de Roseta - ninguém ligado sequer ao PS, ex-PS... o que se queira; finalmente, a falta de qualquer ligação ao terreno: juntas de freguesia, secções - seja o que for ligado ao PS em toda a cidade de Lisboa: nada. A «rua PS», em 2007, ainda respondeu à chamada com uns milhares de votos. Mas vai responder cada vez menos. Note que eu não falei aqui de a votação de Roseta baixar: falei de a «rua PS» cair nos CPL. Que vão perder muita dessa rua PS, mas que poderão manter a votação mercê de outros fenómenos. Por exemplo: potenciando a actual visibilidade mediática de Roseta (nas redacções quase todas ela é uma espécie de novo fenómeno Sá Fernandes dos anos 2000-2007, arrebanhando por isso muitos dos votos que na altura engrossaram o BE, em consequência dessa visibilidade do cavaleiro das providências cautelares, expressando desse modo a sua esperança em Sá Fernandes, hoje longe dessa aura. Roseta beneficiará destes dois factores (sua visibilidade e desilusão e desagregação dos votos expressos no BE). Mas em curta medida, sempre.
Foi por tudo isso que não contabilizei os CPL na análise nacional/lisboeta do entrosamento de votos PS/PSD... parece complicado. Mas não é: é até bem mais simples do que parece.

3.
E se Ferreira Leite enfiasse com Santana em Cascais, por exemplo? No ‘DN’ colocou-se essa hipótese. Assim:

«Lisboa
Tal como em Dezembro de 2001, a conquista da Câmara de Lisboa (por Pedro Santana Lopes) ao PS representou um trampolim para José Manuel Durão Barroso ganhar as legislativas em Março de 2002, a situação em 2009 não é muito diferente. Caso o calendário não junte as duas eleições, o candidato de Lisboa é outro dos grandes desafios da nova líder do PSD. A tentação em convidar Pedro Santana Lopes é grande junto da nova entourage do PSD, mas há quem prefira Fernando Seara, apoiante de última hora nas directas, e até António Capucho. Neste último caso, há quem aposte num cenário de remeter Santana para Cascais e fazer avançar Capucho em Lisboa.»
DN

4.
E Paula Teixeira da Cruz?

Os restaurantes, Cascais e Sintra; os Paços do Concelho, as sedes dos partidos em causa... são os locais acesos.
Fala-se aí de muitos nomes. Mas parece que uma coisa é certa: ninguém fala de Negrão...
Nota
Aqui, alguém alertou para Paula Teixeira da Cruz: vereadores e presidentes de junta do PSD podem ser o seu actual suporte no terreno – escreveu esse alguém…

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