Casteleiro
Capítulo do Livro «Terras de Riba-Côa – Memórias sobre o Concelho do Sabugal», de Joaquim Manuel Correia, editado em Lisboa, em 1946. Trata-se de uma edição póstuma. O autor nasceu em 1858 e morreu em 1945.
Nota prévia: digo aqui que me parece ter o livrro sido escrito por volta de 1905. Saiba porquê, lendo o artigo referido.
Distante do Sabugal 18 quilómetros , a S
O, é situada a povoação do Casteleiro na margem esquerda da chamada Ribeira da
Nave, que ali toma o nome desta freguesia e sobre a qual foi há poucos anos
construída uma boa ponte, que liga a estrada do Sabugal a Sto Amaro e Caria,
sendo arrematado o lanço de S. Estevam ao Casteleiro em 22-3-1893. Março.
O nome da terra parece ter derivado do facto de ter havido
ali e proximidades pequenas fortificações. Diz-se que na Serra das Barrentas
que fica próxima existia antigamente uma povoação fortificada, restando dela
alguns vestígios, dando-se ao sítio o nome de Sortelha Velha.
Vimos no Casteleiro os vestígios do antigo reduto, junto da
velha capela do Espírito Santo e afirmaram-nos que em meados do século pas-
sado foram destruídas duas portas que havia na muralha que cercava a povoação.
A atestarem a antigüidade do Casteleiro existem apenas êsses
vestígios do reduto e alguns portais e janelas características semelhantes a
outras da Vila do Touro e Alfaiates.
A povoação oferece um aspecto pitoresco, devido aos
arvoredos que a cercam, viçosas oliveiras, sobreiros e muitas árvores
frutíferas, às formosas e ubérrimas várzeas, fertilisadas pela Ribeira da Nave,
e às vinhas que enfeitam os campos e que, embora ocupem menor área que
antigamente, muito concorrem para a riqueza dos habitantes pelo afamado vinho
que produzem, que antes da invasão filoxérica se calculava em 400 pipas.
Depois do vinho o azeite, o centeio, o trigo, a batata, o
feijão, grão de bico, frutas e hortaliças, são as principais fontes de riqueza.
Há também bons gados lanígero, bovino e caprino.
Está o Casteleiro cercado de elevados montes e serras,
ficando perto a Serra de Opa, nas faldas da qual assenta a povoação de Vale de
Lobo e a igreja de Nossa Senhora da Póvoa, na encosta meridional da mesma, já
pertencente ao concelho de Penamacor.
Para se fazer idéia dos progressos da povoação convém
dizer-se que em 1757 tinha apenas 52 fogos e actualmente (1905) 280 e 974
almas.
Até 1855 pertencia ao concelho da Covilhã, passando depois
para o do Sabugal. Talvez por ter pertencido àquela vila se explique o facto,
afirmado por antigos escritores, de haver ali noutros tempos «grande tracto de
panos», o que actualmente não sucede.
Igreja paroquial
Está a igreja ao fundo e ao lado sul da povoação. Parece de
moderna construção e é suficientemente espaçosa, tendo também côro, assente em
duas colunas graníticas tendo cada uma delas uma pia destinada a água benta.
Debaixo do côro está colocada a pia baptismal, a mais simples de quantas temos
visto.
Tanto a igreja, como o côro e a sacristia, são da maior
sitnplicidade e singeleza de estilo. Devemos, todavia, fazer menção de dois
altares de boa talha dourada, o altar-mor e o do Menino Jesus. No primeiro
estão expostas as imagens de S. Salvador, orago da freguesia, S. Sebastião e
Senhora de Lourdes.
Além destes existem ainda os altares da s.a das Dores, das
Almas e de S.to António, sendo os dois primeiros modernos, sem nada terem digno
de nota. O últímo tem, contudo, a particularidade rara de ser aberto na parede
e ser todo de pedra, colunas, ornatos e o nicho do santo popular.
Ao lado da igreja paroquial está o cemitério, onde vimos
algumas campas cobrindo os restos mortais de pessoas ilustres da freguesia.
O rendimento paroquial, segundo as informações dadas pelo
respectivo pároco é o seguinte: .
Côngrua, 120.000 réis; Pé de altar, 50.000 réis;
Baptisados,360 réis; Casamentos, 240 réis; Enterramentos de menores, 110 réis e
Bens de alma, 3.000 a
7.000 réis.
O pároco era da apresentação do Vigário de Sortelha, tendo
20.000 réis de côngrua.
Notâmos no Casteleiro grande falta de água potável, sendo a
fonte ainda das chamadas de mergulho, correndo mui raramente no verão, o que
torna as águas impróprias para o consumo, condenadas pelos preceitos
higiénicos.
Escolas primárias
Há no Casteleiro uma escola para cada sexo. A do sexo
feminino, uma das mais modernas do concelho, esteve alguns anos sem ser provida
por motivos políticos.
Quando visitámos um dia o Casteleiro, no lindo palacete, que
pertenceu aos falecidos D. Teodora e marido, Dr. Sobral, que foi um dos mais
distintos médicos do país, vimos a mobília destinada a essa escola, que devia
ser ali instalada.
A do sexo masculino funcionava na sacristia da antiga igreja
de S. Francisco, a pequena distância da primeira.
Alguns distintos filhos do Casteleiro
Foi o Casteleiro berço de homens ilustres, por vários
títulos notáveis, cuja ilustração e virtudes os tornaram mui conhecidos e
estimados.
DR. JOSÉ AUGUSTO CAMEIRA, formado em direito pela
Universidade de Coimbra.
DR. MANUEL CAMEIRA DE GOUVEIA, formado em teologia e orador
de justificada fama.
CÓNEGO D. ANTÓNIO CAMEIRA DO SACRAMENTO, D. Prior do
Hospício de S. Agostinho (crúzios) de Braga e que faleceu no Teixoso.
D. JOÃO CAMEIRA, cónego do Convento de Santa Cruz de Coimbra
e falecido em Lisboa.
Mais modernamente são dignos de menção:
p.e MANUEL FIGUEIREDO, que foi pároco nas Quintas de S. Bartolomeu,
há muito falecido.
p.e MANUEL FORTUNA, que poucos anos depois de se ter
ordenado sucumbiu aos estragos de uma grave doença.
p.e MANUEL MARTINS FORTUNA, que depois de ter exercido o
magistério primário durante muitos anos se jubilou, sendo nomeado pároco
encomendado apoz o falecimento doutro filho do Casteleiro - que foi o pároco F.
MENDES GUERRA, tio dos abastados proprietários Manuel Fernandes Mendes Guerra e
Joaquim F. Mendes Guerra.
Faremos ainda menção do p.e FRANCISCO DE PAULA FIGUEIREDO, que
foi pároco nas Quintas de S. Bartolomeu e depois capelão da Misericórdia da
vila do Sabugal, e do abastado proprietário JOAQUIM MENDES GUERRA, brilhante e
corajoso jornalista, culto e activo, colaborador de vários jornais de Lisboa e
director da Gazeta do Sabugal, que se publicou há anos.
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Pertencem ao Casteleiro os lugares de Valverde, Stº Amaro e
Quinta de S.to António. Tem a freguesia sete moinhos e várias quintas.
Stº Amaro
Em 1615 era esta Quinta praso da ordem de S. Bento de Aviz,
pertencendo o domínio útil a António Camelo. Pertence actualmente o domínio
pleno da Quinta ao Dr. Eduardo Tavares de Melo da Costa Lobo, mais conhecido
por Morgado de Santo Amaro, e a seu filho, Dr. Tavares de Melo, notável
«sportman».
O Dr. E. Tavares de MeIo da Costa Lobo é filho dum Coronel
de Milícias da Covilhã, cujo nome completo nos não ocorre agora.
Formado em direito pela Universiaade de Coimbra, nunca
precisou de utilisar-se das cartas por ter avultada fortuna; mas, além de
notável «sportman», é artista distintíssimo, sendo digna de visita a sua
belíssima vivenda. Os seus trabalhos de torneiro em madeira e marfim
são perfeitíssimos, tendo sido premiados em exposições.
Reside ordinàriamente em Coimbra, onde tem um bom palacete.
É-nos grato escrever estas singelas palavras de homenagem a um homem ilustrado,
que é ao mesmo tempo um artista consumado e um carácter honesto e primoroso,
que faz parte dessa galeria de homens ilustres da freguesia do Casteleiro (I).
A povoação de Santo Amaro era toda foreira (ou paga ainda)
ao Sr. Dr. Tavares, que ali tem, além da vivenda, extensas propriedades que deu
de arrendamento a longo prazo. (2)
São de notar as saborosas melancias, criadas nesta quinta,
sempre as primeiras, maiores e mais saborosas que aparecem à venda nas feiras e
mercados dos concelhos limitrofes.
Têm igualmente grande fama os queijos de Santo Amaro.
Na povoação há uma ermida decentemente ornada, onde se
venera a imagem de Santo Amaro. (5)
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Valverde é outra povoação pertencente ao Casteleiro, donde é
natural o distinto médico militar Dr. José da Costa Cameira.
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