Sunday, March 08, 2009

António Costa ao 'CM' sobre Lisboa

Parte da entrevista de António Costa ao 'CM' de hoje em que se fala de Lisboa:

«ARF – Vamos agora falar de Lisboa e da Câmara em ano de eleições. Arrependeu-se de ter avançado em 2007 para a presidência da Câmara?
- Não, de todo.
ARF – Ainda não se arrependeu?
- Pelo contrário. Diariamente fico mais feliz com a opção que fiz. Foi uma primeira fase muito dura, muito difícil, com uma Câmara completamente paralisada, numa situação de crise e de falta de credibilidade e de impossibilidade de responder às muitas necessidades da cidade. No segundo semestre de 2007 e em 2008 foi possível ultrapassar a fase de grande crise financeira e 2009 já marcou um ponto de viragem em que é possível começar a fazer aquelas coisas básicas. Não nos permite aventuras, há que ter muito juizinho, muita cautela.
ARF – Isso tudo apesar do Tribunal de Contas.
- Apesar do Tribunal de Contas. Não é só apesar. Eu diria quase contra o Tribunal de Contas foi possível pagar as dívidas. O Tribunal de Contas nem impediu o endividamento quando o devia ter impedido nem facilitou o pagamento das dívidas quando importava pagar as dívidas. Isso significou que durante um ano tivemos de paralisar a actividade da Câmara para poupar o necessário para pagar as dívidas.
LC – O Tribunal de Contas acabou por prejudicar a cidade?
- Sobre isso não tenho a menor das dúvidas. Prejudicou a cidade por obra que não foi feita e prejudicou financeiramente o município, visto que as condições de financiamento dos acordos de pagamento que tivemos de recorrer são claramente mais negativos do que era o contrato de empréstimo que tinha sido negociado pela Câmara.
LC – Compreende essa decisão ou não a compreende de nenhuma forma?
- Respeito-a, mas é uma fase que está ultrapassada e orgulho-me de ter feito o que devia ter sido feito. Que é de 360 milhões de dívida de curto prazo a fornecedores pagámos 180 milhões, renegociámos 110 milhões e os últimos 20 milhões estão em vias de pagamento.
LC – A forma como está a governar a cidade não prova que a maioria absoluta não era essencial?
- Prova é que se houvesse maioria absoluta teríamos conseguido fazer as coisas certamente de forma mais rápida do que temos feito. Este sistema de governo municipal é muito ineficiente. Nós temos reuniões de câmara que duram cerca de dez horas. Felizmente que não tem havido situações de bloqueio, mas isso implica muita negociação e muitas horas de preparação.
LC – Nas próximas eleições vai voltar a pedir a maioria absoluta?
- Eu já a pedi na outra vez. Mas sabe que as maiorias absolutas não basta pedir, é preciso obtê-las. Pedir vou pedir com certeza, porque isso é a melhor forma de poder governar e responder aos problemas da cidade.
LC – A possibilidade de acordos é um assunto encerrado?
- Não, por mim tenho estado sempre aberto a acordos. Aliás fiz um acordo com o Bloco de Esquerda, que foi o único que quis fazer, que eles romperam porque acabaram por achar que não queriam assumir responsabilidades. Temos um acordo de trabalho, que se tem mantido, com a vereadora Helena Roseta e com a vereadora Manuela Júdice.
ARF – Pode ser a base para uma aliança futura?
- Por mim seria óptimo. Mas como sabe para as alianças é preciso que ambas as partes o queiram. Mas eu tenho dito que estou disponível e que era favorável para a cidade que houvesse um entendimento. O PCP não quer nenhum acordo pré-eleitoral, o BE não quer pré nem pós-eleitoral, a vereadora Helena Roseta dirá mais à frente o que quer.
LC - Gostava de ter Helena Roseta nas suas listas?
- Temos trabalhado bem os dois. Como é sabido não pensamos rigorosamente o mesmo sobre a cidade, há diferenças entre nós, mas acho que no trabalho nos temos conseguido entender. Espero que assim continue a ser. Vamos aguardar. Não será por mim que não haverá entendimento.
- Como é que encara a aliança PSD/CDS e o regresso de Pedro Santana Lopes a uma luta eleitoral em Lisboa?
- A candidatura de Santana Lopes tem a vantagem de ser muito clarificadora. Era difícil encontrar uma candidatura mais distinta da minha. Porque tudo nos distingue. Distingue-nos a forma de governar, distingue-nos o estilo, distingue-nos a personalidade, distingue-nos as preocupações relativamente à cidade, distingue-nos o trabalho que cada um desenvolveu. É como comparar a cigarra com a formiga e acho que isso é muito bom porque o eleitorado vai ter oportunidade de escolher dois caminhos absolutamente distintos. E isso é bom em democracia. O que é difícil é quando as coisas são parecidas e as pessoas têm dúvidas. Assim não.
ARF – Vai ser uma campanha centrada na gestão de Santana e Carmona Rodrigues em Lisboa?
- Eu por mim vou fazer a campanha com um tema que me parece bastante mais interessante que é o futuro da cidade.
ARF – Não vai repisar o passado?
- Acho Lisboa bastante mais interessante do que o doutor Santana Lopes.
ARF – Não vai criticar esse passado?
- Quem tem saudades do passado é quem candidata o doutor Santana Lopes, eu tenho saudades do futuro.
ARF – Não vamos ter, portanto, um debate sobre o que foi bem ou mal feito, como acontece nos debates parlamentares com José Sócrates?
- Eu não preciso dizer muito porque as pessoas sabem bem o estado em que a governação Santana Lopes e do PSD em seis anos deixou a cidade, numa crise política única que conduziu a eleições antecipadas, numa situação de ruptura financeira. Os lisboetas sabem e o doutor Santana Lopes, entretanto, passa os dias a recordar essa sua obra. Eu procuro centrar-me naquilo que faço e nas preocupações do futuro da cidade.
LC – Mas o doutor Santana Lopes conseguiu unir a direita. Está a ter mais dificuldades em unir a esquerda. Não tem receio que uma esquerda dividida seja derrotada?
- Eu procuro unir os lisboetas. Foi esse o lema da minha candidatura, unir Lisboa. E tive felizmente apoios de pessoas de esquerda e de direita que estão preocupadas com Lisboa. O doutor Santana Lopes foi duas vezes presidente da Câmara Municipal de Lisboa, teve oportunidade de realizar o que entendeu realizar, toda a gente sabe que eu tive, no fundo, meio mandato e que neste temo o que fizemos foi arrumar a casa, pôr as contas em ordem, eliminar os vazios regulamentares que existiam, o esforço de resolver problemas laborais gravíssimos com cerca de 800 pessoas que estavam em situação de precariedade e ilegalmente há anos.
LC – Mas os lisboetas não sentem nada disso no seu dia-a-dia.
- Os cidadãos são inteligentes e conhecem bem o funcionamento das coisas. E sabem todos que ninguém faz obra sem começar por fazer os alicerces, sem começar por arrumar a casa.
LC – Acha que as pessoas vão compreender isso?
- Não é não vão, acho que as pessoas compreendem. E acho que é isso que as pessoas admiram e acham que esta Câmara fez o que devia ter sido feita. E que teria sido verdadeiramente irresponsável a Câmara em vez de pagar as dívidas pôr-se a fazer mais dívidas. Em vez de regularizar a situação dos trabalhadores ter-se posto a contratar mais pessoas e continuarmos a caminhar para o descalabro.
LC – Mas para quem tem problemas no trânsito, problemas de encontrar casa é um discurso difícil de perceber.
- O que as pessoas sabem é que esta Câmara resolveu problemas. As outras Câmaras fingiram que os resolveram e só os agravaram.
LC – O próximo mandato é para fazer obra?
- Há já muito obra que está feita neste mandato, ou não tem dado por isso.
LC - Mas reconhece que Santana Lopes é um candidato forte.
- Quem tem de apreciar o doutor Santana Lopes foi quem o escolheu. Eu cá por mim aprecio e concentro-me naquilo que é o meu trabalho e deixo os outros para os outros.
ARF – Santana Lopes já disse que não fica como vereador se perder as eleições. Vai fazer o mesmo?
- Vou disputar as eleições porque é o meu dever. Eu disse claramente aos lisboetas ao que vinha. Este mandato era absolutamente extraordinário de dois anos para arrumar a casa, pôr a Câmara a funcionar e preparar o futuro. E que só faria sentido esta minha candidatura numa lógica de dois mais quatro anos. É isso que eu estou aqui a fazer. È nisso que estou concentrado e não me vou pôr aqui a fazer cenários.
ARF – Já leu o poema de Manuel Alegre sobre os contentores de Alcântara?
- Não, esse não tive oportunidade de ler.
ARF – Este assunto não o vai fazer perder as eleições?
- Vamos lá ver. A cidade de Lisboa é uma cidade portuária. Nasceu, aliás, do facto de ser uma cidade portuária e Lisboa precisa de um porto moderno, dinâmico, com capacidade para ter mais movimento de passageiros e mais movimento de mercadoria e que seja mais competitivo. Nós temos 19 quilómetros de frente ribeirinha. É muito quilómetro, E o que é essencial é termos uma visão de conjunto. E por isso este mandato ficará marcado pelo facto de termos acabado com o monopólio da frente ribeirinha entregue à administração do Porto de Lisboa e pela primeira vez a Câmara recuperou o domínio sobre as áreas desafectas à actividade portuária.
ARF – Exactamente.
- E dessa visão global dos 19 quilómetros nós sabemos que há zonas de laser, há zonas de aproveitamento turístico, há zonas culturais e há zonas para a actividade portuária. Não somos uma cidade só de turistas. Nós somos uma cidade que tem de produzir riqueza, gerar emprego para poder ser uma cidade em que se possa viver. Este plano de expansão do Porto de Lisboa já foi apresentado há vários anos.
ARF – Com várias alternativas.
- Houve uma grande discussão sobre o terminal de contentores que nós ganhámos, eliminando o terminal de contentores que estava previsto e impondo um novo terminal de cruzeiros. Relativamente aos contentores não havia grande polémica. Nós pusemos um conjunto de condições para dar um parecer favorável e apoiarmos esta solução. Primeira e fundamental ter uma solução de escoamento que assegure que o maior número de contentores movimentados não signifique um aumento de tráfego na cidade de Lisboa. E para que isso seja possível é fundamental a solução do desnivelamento do comboio de mercadorias.
ARF – Alguns técnicos dizem que essa obra é quase impossível.
- É por isso que nós dissemos que se essa obra não se fizer não se pode aumentar a capacidade no porto na zona de Alcântara. Esse é o primeiro condicionante essencial. E há outros. São quatro condições essenciais para viabilizarmos essa obra.
LC – O doutor Santana Lopes já disse que se for eleito quer cumprir oito anos à frente da Câmara. Quantos anos mais quer ficar à frente do município?
- Como sabe agora há uma limitação de mandatos e portanto além destes dois anos e do próximo poderei fazer mais um terceiro. Se merecer a confiança dos lisboetas e tiver saúde. Sabe que é muito fácil uma pessoa apaixonar-se por Lisboa.
LC – Como sabe há muita gente que o vê como o sucessor de José Sócrates à frente do PS.
- Sim, ele é muito novo eu também sou muito novo. Eu por mim estou concentrado exclusivamente no município de Lisboa. Houve outros que abandonaram Lisboa para irem para o Governo. Eu fiz o caminho contrário, abandonei o Governo para vir para Lisboa, é em Lisboa que estou e é em Lisboa que fico.»

2 comments:

Anonymous said...

só mentiras. o costa não fala dos despedimentos, das contratações dos amigos PS e da verbas gastas no simplis, em vez de gestão da cidade

Anonymous said...

Como eles explicam não foram eleitos pata gerir a cidade.......

Sabem para que é que eles foram eleitos? para ter uma VISÃO SOBRE A CIDADE.

São os políticos que temos..........