Sunday, November 19, 2006

INTERVENÇÃO DO VEREADOR
RUBEN DE CARVALHO
NA VI ASSEMBLEIA DA ORGANIZAÇÃO REGIONAL DE LISBOA DO PCP

Pavilhão do Casal Vistoso, 18 de Novembro de 2006


Camaradas e amigos

Completou-se há pouco um ano que travámos uma das mais complexas, mas também combativas campanhas eleitorais autárquicas na cidade de Lisboa.
Ao fim de mais de uma década de governação da capital por uma coligação de esquerda PCP-PS e Verdes que, nomeadamente nos seus primeiros anos, profunda e favoravelmente transformou a cidade, a reconstituição da coligação foi inviabilizada pelo Partido Socialista que, de resto, revelara já estar progressivamente a afastar-se dos grandes objectivos que tinham permitido realizar um trabalho que os lisboetas reconheceram em sucessivas eleições e, no mandato anterior, objectivamente vaibilizara a política de Pedro Santana Lopes.
Concorremos assim apenas em listas do Partido Comunista Português à Câmara e freguesias da capital, mas é ainda de recordar o quadro político nacional em que tudo se passou.
A direita sofrera uma estrondosa derrota política e eleitoral com Santana Lopes a protagonizar sucessivos desastres alternadamente na nossa Câmara e no governo dó País. O grande beneficiário do descontentamento do povo português face às deserções de Durão Barroso, aos desmandos de Santana, às hesitações de Jorge Sampaio e à crise que se avolumava acabou contudo por ser o Partido Socialista que, no Parlamento conseguiu a sua primeira maioria absoluta. E foi à luz dessa marcha imaginada como imparável que, descurando a realidade e os interesses dos lisboetas, o PS recusou a coligação e conduziu uma campanha autárquica arrogante, autista e claramente anti-comunista, convicto de que uma alegada vaga de fundo lhe daria nas autárquicas a continuação do seu sucedera nas legislativas.
Indispensável é ainda acrescentar o papel desempenhado pela comunicação social que, ao longo de meses, não apenas deu a candidatura socialista como «natural» triunfadora como, sobretudo, caluniou e ignorou as propostas dos candidatos comunistas e beneficiou da forma mais escandalosa a presença do Bloco de Esquerda e do seu candidato. Situação que, a falar verdade, nada teve então de novo, e muito menos deixou de se repetir e alargar desde então até hoje!
Apesar destas circunstâncias difíceis, os resultados asseguraram significativos resultados para o Partido, mas geraram igualmente outros aspectos relevantes: constituíram uma estrondosa derrota para a arrogância do PS de José Sócrates (e não apenas em Lisboa, com a humilhante e merecida desfeita de Manuel Maria Carrilho) que acabou a permitir uma maioria relativa aos herdeiros directos da desastrosa festão de Santana Lopes. António Carmona Rodrigues e o PSD – uma vez mais com a preciosa ajuda da comunicação social – conseguiram a assinalável proeza de se apresentarem como isentos dos erros, negociatas e trapalhadas de que também tinham sido directos protagonistas.
No quadro de instabilidade de uma maioria relativa e após as vicissitudes que se conhecem, acabou por se reconstituir a maioria PS-CDS/PP que, de 2002 a 2005, fora responsável pelo talvez mais desastroso período de governação do concelho de Lisboa. E, mais significativo e anunciando resultados que a realidade veio exuberante e infelizmente a confirmar, esta nova maioria em nada se demarcou do desastre que a vira nascer: no dia das eleições, Carmona Rodrigues dedicou a vitória a Pedro Santana Lopes! O programa não era corrigir erros, era manifestamente continuá-los!


E, camaradas e amigos, foi exactamente isso que aconteceu. O erro continuou, tal como continuou o desnorte de um Partido Socialista cujos vereadores, ao fim de um mês votavam cada um para seu lado, cujo líder primou deste entãp pela ausência e desinteresse pela gestão camarária.
O eleito pelo Bloco de Esquerda fez de uma frenética busca de escândalos de impacto mediático (em nada difícil de encontrar, de resto, e, igualmente de resto, na sua maioria já denunciados de forma consistente, persistente e responsável pelo PCP perante o vergonhoso silêncio de rádios e televisões), mas, dizíamos, fez dessa busca populista o eixo da sua acção, quedando aos eleitos do PCP o respeito pelos compromissos assumidos de denunciarem sistematicamente a ausência de resolução de problemas, o agravamento de muitos deles, o prosseguimento das cedências às especulações imobiliárias, tudo agravado por uma manifesta incapacidade de afirmação política e institucional do mais importante município da capital.
Tal facto, camaradas, também fruto de manifestas dificuldades e características do presidente Carmona Rodrigues, assumiu particular importância quando o governo central, na sua fúria destruidora de direitos e conquistas do Portugal de Abril e dos direitos dos trabalhadores, fez também do poder local um dos seus inimigos, multiplicando-se em medidas limitadoras, fiscalizadoras e violadoras de uma autonomia que garantiu ao País desde 1974 grande parte dos seus progressos sociais.


A Câmara de Lisboa, com o rompimento recente da coligação PSD-CDS/PP atravessa uma crise que, em muitos aspectos, pode ter consequência imprevisíveis. As páginas dos jornais e os noticiários enchem-se de comunicados e contra-comunicados, versões sobre conflitos políticos e sobretudo pessoais, explicações que têm geralmente a característica de não explicar coisa nenhuma!
Como repetidamente nós, comunistas, temos dito, é claro que, em última instância as crises políticas têm sempre protagonistas, sejam eles individuais ou colectivos, tão inevitavelmente quanto a política é feitqa por homens e mulheres. Mas as verdadeiras razões das crises políticas não estão no fulano ou no beltrano, essencialmente no evento tal ou na nomeação tal: o que explica as crises políticas – é a política! Ou melhor: o que dá origem às crises políticas é a má política, é a política que não satisfaz o País e o povo e assim perde a sua razão de ser, a sua sustentação, o seu apoio, se desagrega – e entra em crise.
E foi isto que aconteceu em e está a acontecer em Lisboa.
Ao fim de um ano nenhum dos grandes problemas da capital foi resolvido. Os casos do Parque Nayer e do túnel do Marquês – nem sequer os mais importantes – que há praticamente 3 que ocupam títulos e preocupações, que há um ano estiveram entre os mais badalados temas da campanha eleitoral aí estão – na mesma! Na mesma, ou pior, exactamente como a polítia da maioria que por eles foi e é responsável!
Entretanto, camaradas e amigos, Lisboa tem um novo casino implantado exactamente, de forma tão significativa, na área que foi um nastião da orgulhosa, corajosa e combativa classe operária desta mesma Lisboa
A situação que se vive não serve os interesses de Lisboa e dos lisboetas e exige desde já que algumas coisas se esclareçam.
No meio de uma significativa balbúrdia, os eleitos socialistas e as suas estruturas partidárias concelhias desdobram-se em declarações que, na sua última versão – a de ontem! – afirmam que não pretendem entendimentos com o PSD e Carmona Rodrigues. Veremos seguramente em breve se estas afirmações se referem à política, aos lugares a distribuir aqui e ali em empresas municipais em bolandas na actual confusão – e, sobretudo, quanto tempo duram… Será especialmente esclarecedor o que se passará nas próximas semanas.
Quantos aos eleitos comunistas, camaradas, aí reside sem dúvida, a mais firme, a mais definitiva e absoluta certeza com que Lisboa pode contar: jamais apoaremoa a política de direita, jamais viabilizaremos executivos de direita, seremos sempre e combativamente defensores de uma política de desenvolvimento, protectora dos mais desprotegidos, do ambiente, do bem estar. Defenderemos os trabalhadores, opor-nos-emos à entrega da cidade à especulação imobiliária, à destruição da sua história, do seu património, ao seu despovoamento e ao seu empobrecimento.

Camaradas e amigos, neste ano de 2006 os comunistas portugueses afirmam com orgulho a sua fidelidade de 85 anos aos interesses do Povo e da Pátria. Aqui, em Lisboa, desde que o município da capital foi devolvido ao povo de Lisboa pelos cravos que há mais de 30 anos aqui floriram, igualmente podemos dizer que os homens e mulheres que nas listas comunistas mereceram o apoio, o voto e a vontade dos lisboetas, mereceram a confiança neles depositadas.
Poderemos estar certos que, mais fortes pelo trabalho colectivo, pelo reforço de organização, pela força e determinação de que esta própria Assembleia é prova provada – assim continuará a ser.

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