Saturday, July 14, 2012

1973-74-75... em Portugal

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1 – A crise económica de 1970-73 (erradamente chamada de choque petrolífero, porque este foi uma das suas manifestações e não causa; não há uma crise decorrente de um choque petrolífero, há um choque petrolífero decorrente de uma crise cíclica) foi a mais importante queda da taxa de lucro depois da Guerra.
2 – Os EUA, como sempre, exportaram a sua crise desvalorizando o dólar (fim do padrão ouro) com a consequente inflação galopante pelo mundo. Em Portugal a inflação chegou aos 30%.
3 – As medidas anti crise implicaram o congelamento da construção na Europa central e portanto a força de trabalho portuguesa estava agora impedida de emigrar e, a que estava em França, Benelux, Suíça, reduzia o envio de remessas.
4 – Implicou um efeito devastador no orçamento do país. 40% do OE já era para a guerra. Contaram-me, mas não tenho docs  para além da história oral, que João Augusto Rosas, ministro das Finanças, quando se demite em 1972, terá afirmado que não «havia dinheiro para continuar a guerra».
5 – Implicou despedimentos em massa, descapitalização e enceramento de fábricas. As ocupações não começam por consciência socialista mas justamente começam como forma de garantir o direito ao trabalho, depois dos patrões encerrarem as fábricas para garantir a destruição de capital e a consequente (re)valorização deste. Vale a pena lembrar que de acordo com Eugénio Rosa passa-se de cerca de 40 mil desempregados em Abril de 1974 para 300 mil em Dezembro de 1975. Todos os materiais da época de todos os quadrantes políticos que consultei de 1974 e 1975 confirmam estes números.

In http://5dias.net/2012/07/13/vale-mesmo-a-pena/
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Thursday, July 05, 2012

Duas aldeias da serra beirã no século XVIII

Vou partilhar consigo.
Amigos privilegiaram-me com estas preciosidades.


E não me perguntem sequer o que é que isto tem a ver com Lisboa (nome do blog). Basta ver quem é que manda o inquérito (Padre Cardoso), de onde o manda (Lisboa) e ao serviço de quem (Marquês).


Eis então as perguntas do Terreiro do Paço e as respostas dos dois curas daquelas duas aldeias da Beira do século XVIII.



INTERROGATÓRIOS PARA A ORGANIZAÇÃO DO DICIONÁRIO GEOGRÁFICO

DO PADRE LUIS CARDOSO
1758

Venha tudo escrito em letra legível e sem breves
 (Mandados pelo Governo de Marquês de Pombal aos párocos depois do terramoto de 1755)

I
O que se procura saber dessa terra, é o seguinte:

1 - Em que Província fica, a que bispado, comarca, termo e freguesia pertence?

Vale - Está na Província da Beira, Bispado da Guarda, Comarca de Castelo Branco, freguesia de São Tiago, Termo de Penamacor.
Casteleiro - Está na província da Beira, Bispado da Guarda, Comarca de Castelo Branco, Freguesia do Salvador, anexa de Santa Maria do Castelo da Vila de Sortelha e termo da mesma Vila.

2 - Se é D’El Rey, ou de donatário, e quem o é ao presente?

Vale - É D’El Rey
Casteleiro - É anexa da igreja de Santa Maria da dita vila de Sortelha. Pertençe a El Rei.

3 - Quantos vizinhos tem, e o número de pessoas?

Vale - Tem fogos cento e doze, regular de confissão e comunhão duzentas e setenta e duas; só de confissão setenta e quatro e crianças quarenta
Casteleiro - Tem cento e cinquenta e dois fogos, pessoas de confissão e comunhão trezentas e quarenta e oito; só de confissão setenta e quatro, crianças que ainda não se confessam cento e três, pessoas ao todo quinhentas e vinte cinco.

4 - Se está situada em campina, vale ou monte, e que povoações se descobrem dela, e quanto dista.

Vale - Está situada em vale. Dela se vê para a parte do levante o lugar de Santo Estêvão, meia légua de distância; e para o sul, o lugar da Benquerença, longe uma légua.
Casteleiro - Está situada em Vale; dela se descobre para a parte do Nascente o lugar da Moita, distância de meia légua; para a parte do Norte a Vila de Sortelha à distancia de uma légua.

5 - Se tem Termo seu, que lugares ou aldeias compreende, como se chamam, e quantos vizinhos tem?

Vale - Nada
Casteleiro - Nada

6 - Se a paróquia está fora do lugar, ou dentro dele, e quantos lugares, ou aldeias tem a freguesia, todos pelos seus nomes.

Vale - A paróquia está dentro do Lugar; cá e mais nada.
Casteleiro - A paróquia está feita no lugar e logo junto às casas, tem uma quinta que chamam Cantargalo tem um morador; e tem outra que chamam do Espirito Santo, tem outro morador.

7 - Qual é o seu orago, quantos altares tem, e de que santos, quantas naves tem; se tem irmandades, quantas, e de que santos?

Vale - O orago desta freguesia é São Tiago. A Igreja tem quatro altares. O altar mor em que está da parte direita São Tiago e da esquerda Santo António e outro altar da parte direita dedicado à Senhora do Rosário, e da mesma parte outro das Almas; (...)Cristo cruxificado e da parte esquerda um dedicado ao Espírito Santo, tem duas naves e Irmandades quatro. Uma das Almas, outra do Espírito Santo, outra da Senhora da Póvoa, e outra de S. Sebastião.
Casteleiro - O orago desta freguesia é o Salvador do Mundo, a igreja tem três altares dois da parte do evangelho, um dedicado ao menino deus e outro a Santo António, e da parte da epistola tem outros dois um dedicado a nossa senhora do rosário e outro às almas do purgatório. Naves tem somente o arco da capela mor; e uma irmandade das almas do purgatório; e outra de S. Pedro.

8 - Se o pároco é cura, vigário ou reitor, ou prior, ou abade, e de que apresentação é, e que renda tem?

Vale - O pároco é cura apresentado pelo prior da Moita e da apresentação do padroado será o seu rendimento duzentos mil réis para o prior e o cura é o que ajusta com o mesmo prior. É o que manda opa (?) de altar.
Casteleiro - O pároco é cura e apresentado pelo reverendo vigário da dita vila de Sortelha por ser anexa da igreja matriz de Santa Maria da mesma vila a qual pertençe a El Rei. Tem de rendimento vinte mil réis.

9 - Se tem beneficiados, quantos, e que renda têm, e quem os apresenta?

Vale - Nada
Casteleiro - Nada.

10 - Se tem conventos, e de que religiosos, ou religiosas, e quem são os seus padroeiros.

Vale - Nada
Casteleiro - Nada.

11 - Se tem hospital, quem o administra e que renda tem?

Vale - Nada
Casteleiro - Nada.

12 - Se tem Casa de Misericórdia, e qual foi a sua origem, e que renda tem; e o que houver notável em qualquer destas coisas?

Vale - Nada
Casteleiro - Nada.

13 - Se tem algumas ermidas, e de que santos, e se estão dentro ou fora do Lugar, e a quem pertencem?

Vale - Tem duas ermidas e uma Igreja caída que foi matriz, e uma capela de Nossa Senhora da Póvoa, e tem mais a imagem de Santa Sabina, está fora do lugar meia légua; e outra de S. Sebastião e tem mais a imagem de Santo Antão.
Casteleiro - Tem quatro ermidas. Uma de S. Sebastião, esta está fora do lugar quase cem passos, e outra do Divino Espírito Santo, esta está dentro do lugar, e outra de Santa Ana, esta está fora do lugar à distância de meia légua, e outra de S. Francisco que está fora do lugar quase trinta passos e nela está erecta a irmandade dos terceiros, sujeita ao convento de Santo António da vila de Penamacor e todas estam sujeitas à igreja matriz do dito lugar de Casteleiro.

14 - Se acode a elas romagem, sempre, ou em alguns dias do ano, e quais são estes?

Vale - Tem a Senhora da Póvoa muita gente em romaria em todo o decurso do ano e o maior concurso é na segunda e terça do Espírito Santo.

Casteleiro - À ermida de Santa Ana costumam os moradores do mesmo povo fazer romagem em dois dias do ano: um em dia de Santa Cruz, a três de Maio, e outro no terceiro dia das ladainhas do dito mês de Maio, e nesta data e em todas as mais acima nomeadas se costuma dizer missa.

15 - Quais são os frutos da terra, que os moradores recolhem em maior abundância?

Vale - Os frutos que nesta terra se colhem mais é azeite, centeio e trigo, e linho e vinho; o mais é centeio e azeite.
Casteleiro - Os frutos que nesta terra se colhem em maior abundância são centeio vinho e azeite castanha e linho, mas esta maior abundância apenas...a terras fortes.

16 - Se tem Juiz ordinário, etc., câmara, ou se está sujeita ao governo das justiças de outra terra, e qual é esta?

Vale - Está sujeita ao Juiz de Fora de Penamacor; e tem dois juizes idóneos.
Casteleiro - Está sujeita aos juízes ordinários da vila de Sortelha e nela está este ano servindo um juíz ordinário por se costumar fazer um da vila e outro da terra....vereador e todos os anos tem dois juízes, oficiais da câmara da dita vila.

17 - Se é couto, cabeça de concelho, honra, ou behetria?

Vale - Nada.
Casteleiro - Nada.

18 - Se há memória de que florescessem, ou dela saíssem, alguns homens insignes por virtudes, letras ou armas?

Vale - Nada.
Casteleiro - Nada por ser gente muito rústica e não se lembrarem de memória alguma.

19 - Se tem feira, e em que dias, e quantos dura, se é franca ou cativa?

Vale - Nada.
Casteleiro - Nada.

20 - Se tem correio, e em que dias da semana chega, e parte; e se o não tem, de que correio se serve, e quanto dista a terra aonde ele chega?

Vale - Depende do Correio de Penamacor, que dista duas léguas.
Casteleiro - Não tem correio, serve-se do correio de Penamacor que dista daqui três léguas.

21 - Quanto dista da cidade capital do Bispado, e quanto de Lisboa, capital do Reino?

Vale - Dista da cidade da Guarda capital deste Bispado seis léguas, e de Lisboa quarenta e duas.
Casteleiro - Dista da cidade da Guarda, capital deste bispado, seis léguas e de Lisboa capital do Reino dista quarenta e três.

22 - Se tem alguns privilégios, antiguidades, ou outras coisas dignas de memória?

Vale - Nada.
Casteleiro - Nada.

23 - Se há na terra ou perto dela alguma fonte, ou lagoa célebre, e se as suas águas têm alguma especial qualidade?

Vale - Nada
Casteleiro - Nada.

24 - Se for porto de mar, descreva-se o sítio que tem por arte ou por natureza, as embarcações que o frequentam e que pode admitir?

Vale - Nada
Casteleiro - Nada.

25 - Se a terra for murada, diga-se a qualidade de seus muros; se for praça de armas, descreva-se a sua fortificação.

Vale - Nada
Casteleiro - Nada.

26 - Se padeceu alguma ruína no terramoto de 1755, e em que, e se está a ser reparada?

Vale - Nada padece da ruína do terramoto do ano de 1755.
Casteleiro - Não padeceu ruína alguma no terramoto de 1755.

27 - E tudo o mais, que houver digno de memória, de que não faça menção o presente interrogatório.

Vale - Nada.
Casteleiro - …



II
O que se procura saber dessa Serra é o seguinte:
28 - Como se chama?

Vale - Tem duas uma chamada do Pa ao poente outra ao nascente chamada o Abrunhal
Casteleiro - O Lugar do Casteleiro está fundado num vale como acima se declara, em cujo limite se acham uma chamada a Serra d’Opa e outra a Serra da Preza.

29 - Quantas léguas tem de comprimento e quantas tem de largura?

Vale - A Serra do Pa terá meia légua de comprimento e um quarto de largura, o Abrunhal terá de largo e comprido meio quarto de légua.
Casteleiro - Esta chamada Serra d’Opa tem de comprimento quase duas léguas e de largura meia légua. Principia no limite do lugar da Moita no sítio da Cabeça Gorda e acaba num sítio que chamam Sam Dinis no limite do lugar chamado Benquerença, distante deste povo duas léguas. E a Serra chamada Serra da Preza terá de comprimento uma légua e de largura quase o mesmo. Principia no limite deste lugar e acaba no limite do lugar chamado Escarigo, distante deste lugar légua e meia. Correm ambas estas serras de norte a sul.

30 - Os nomes dos principais braços dela?

Vale - Os braços da Serra um para a parte do norte chamado o Paraíso, outro para poente chamado os Fiéis de Deus; a do Abrunhal, a breda dos marcos e o outro a Morgada.
Casteleiro - Nada

31 - Que rios nascem dentro do seu sítio, e algumas propriedades mais notáveis deles; as partes para onde correm e aonde fenecem.

Vale - Da Serra do Pa não sai rio nem do Abrunhal.
Casteleiro - Da serra chamada d’Opa nasce um pequeno ribeiro e a este chamam o Ribeiro de Val de Casteloins e logo se mete numa ribeira que corre ao pé do povo e este ribeiro da serra d’Opa corre de nascente para o poente. Da serra chamada da Preza nasce outro pequeno ribeiro que passa ao pé da Quinta do Espírito Santo e corre também para a mesma ribeira. E este ribeiro se mete nela onde chamam o sítio Guaralhais e aquele no sítio chamado Tinte e estes ambos correm do poente para o nascente e tudo está no limite deste lugar.

32 - Que vilas e lugares estão assim na Serra, como ao longo dela?

Vale - Na Serra do Pa à parte do nascente junto ao sopé da serra está Val de Lobo à parte do nascente; e do poente está o Casteleiro e ao norte o lugar da Mouta.
Casteleiro - Nada

33 - Se há no seu distrito algumas fontes de propriedades raras?

Vale - Nada
Casteleiro - Nada

34 - Se há na Serra minas de metais, ou canteiras de pedras, ou de outros materiais de estimação?

Vale - Nada
Casteleiro - Nada

35 - De que plantas ou ervas medicinais é a serra povoada, e se se cultiva em algumas partes, e de que géneros de frutos é mais abundante?

Vale - Toda a cultura de uma e outra parte dá searas de centeio e trigo, e tem hortas com mais frutos.
Casteleiro - A serra chamada d’Opa se cultiva com searas de centeio, de um e outro lado a meia ladeira e a serra chamada de Preza se cultiva com searas também de centeio em todo o ano e em todos os lados dela, e o mais nada.

36 - Se há na Serra alguns mosteiros, igrejas de romagem, ou imagens milagrosas.

Vale - Está no fundo da Serra do Pa a capela da Senhora da Póvoa, igreja de muita romagem e imagem muito milagrosa.
Casteleiro - Quase no meio da serra chama d’Opa está a Ermida da Sancta Anna, acima já declarada, e somente os moradores do mesmo povo costumam ir lá em romagem algumas vezes.

37 - A qualidade do seu temperamento?

Vale - O temperamento é quente e saudável.
Casteleiro - O temperamento destas duas serras acima declaradas é frio mas saudável.

38 - Se há nela criações de gados, ou de outros animais ou caça?

Vale - Cria gado grosso e miúdo e caça miúda e montês
Casteleiro - Criam-se nestas duas serras gado miúdo e caça de coelhos e perdizes.

39 - Se tem alguma lagoa ou fojos notáveis?

Vale - Tem no princípio para a parte do norte volto ao nascente um lameiro por nome Ameal que tem cinco ou seis fontes que nunca secaram e da água se regam muitas fazendas.
Casteleiro - Nesta serra chamada Preza, acha-se em todo o meio os alicerces de uma grande preza que ali houve antigamente, donde a serra tomou o nome de Serra da Preza. E a água desta preza, se conta, a queriam em tempo antigo levar por canos onde chamam a Torre dos Namorados, distante dela quatro ou cinco léguas. E nesta mesma serra, de uma cruz que chamam da Relva Velha, para a parte do lugar chamado Escarigo, tem a Mitra duas partes em todos os frutos e a Comenda uma.

40 - E tudo o mais que houver digno de memória?

Vale - Nada.
Casteleiro - E da mesma cruz, para a parte do mesmo lugar do Castelleiro, tem a Comenda duas partes e a Mitra uma, em todos os frutos.

III
O que se procura saber do rio dessa terra é o seguinte:

41 - Como se chama, assim o rio, como o sítio onde nasce?

Vale - Corre junto do mesmo lugar uma ribeira que nasce na Serra do Mosteiro, no Sítio da Mina, limite de Santo Estêvão, até ao lugar da Benquerença.
Casteleiro - Ao pé deste lugar do Castelleiro corre uma ribeira sem outro nome mais que o nome da ribeira, esta principia a nascer ao pé da serra chamada do Mosteiro, ao pé de uma quinta chamada Alagoas, freguesia de Sancto António da Orgueira, termo da vila de Sortelha. E nela também se mete outro ribeiro pequeno que chamam o Ribeiro do Poio, o qual principia a nascer num sítio chamado Corredoura no limite da dita vila de Sortelha, e este se vem meter nela no sítio das Alvercas, limite deste lugar.

42 - Se nasce logo caudaloso, e se corre todo o ano?

Vale - No seu nascente corre todo o ano, no mais seca.
Casteleiro - Esta ribeira corre quase todo o ano, ou ao menos até ao fim de Julho, e sempre nela se conservam alguns poços de água. Este ribeiro chamado do Poio no princípio corre algo tanto arrebatado, porém em se metendo na tal ribeira entra a correr com ele quieto.
43 - Que outros rios entram nele, e em que sítio?

Vale - Nada
Casteleiro - Neste somente se metem três pequenos ribeiros, chamados um o Ribeiro de Val de Castelloins, e outro de Cantellegalo, e outro do Espírito Sancto, este se mete nela no sítio chamado Guaralhais, aqueles no sítio chamado Tinte.

44 - Se é navegável e de que embarcações é capaz?

Vale - Nada
Casteleiro - Nada.

45 - Se é de curso arrebatado, ou quieto, em toda a sua distância, ou em alguma parte dela?

Vale - Corre quieto
Casteleiro - A ribeira em si corre quieta mas os tais ribeiros que nela se metem correm algo tanto arrebatados.

46 - Se corre de norte a sul, se de sul a norte, se de poente a nascente, se de nascente a poente?

Vale - Corre de norte a sul
Casteleiro - Esta tal ribeira onde principia, corre das partes do nascente e coisa de um quarto de légua no sítio chamado Alvercas limite do mesmo lugar dá uma meia volta e corre de norte a sul.

47 - Se cria peixes, e de que espécie são os que traz em maior abundância?

Vale - Cria alguns peixes pequenos
Casteleiro - Nada

48 - Se há nele pescarias, e em que tempo do ano?

Vale - Nada
Casteleiro - Nada

49 - Se as pescarias são livres, ou de algum senhor particular, em todo o rio, ou em alguma parte dele?

Vale - É livre
Casteleiro - Nada

50 - Se se cultivam as suas margens, e se tem muito arvoredo de fruto, ou silvestre?

Vale - As duas margens de centeio, e trigo e tem ao redor oliveiras e carvalhos.
Casteleiro - As suas margens se costumam cultivar para centeio, as árvores que há ao pé dela são algumas oliveiras e alguns amieiros, porém estes não dão frutos. Também ao pé do lugar em alguns chãos que estão junto dela se costuma semear linho de secadal.

51 - Se tem alguma virtude particular as suas águas?

Vale - Nada
Casteleiro - Nada

52 - Se conserva sempre o mesmo nome, ou o começa a ter diferente em algumas partes, e como se chamam estas, ou se há memória de que em outro tempo tivessem outro nome?

Vale - O nome é Ribeira de Vale de Lobo e contorna o mesmo.
Casteleiro - Enquanto corre no limite deste lugar não tem outro nome mais que de ribeira, mas fora do limite toma o nome de Ribeira do Anacer.

53 - Se morre no mar, ou em outro rio, e como se chama este, e o sítio em que entra nele?

Vale - Entra na Meimoa e esta no Rio Zêzere.
Casteleiro - Morre na ribeira chamada Meimoa entre o lugar Benquerença e o lugar Escarigo.

54 - Se tem alguma cachoeira, represa, levada, ou açudes que lhe embaracem ser navegável?

Vale - Nada
Casteleiro - Nada

55 - Se tem pontes de cantaria, ou de pau, quantas, e em que sítio?

Vale - Tem uma ponte de pau na passagem para a Meimoa.
Casteleiro - Tem esta ribeira duas pontes de pao, uma no sítio chamado Alaia dos Ramos e outra no sítio chamado as Relvas da Ponte.

56 - Se tem moinhos, lagares de azeite, pisões, noras, ou outro algum engenho?

Vale - Tem esta ribeira de onde principia até à Benquerença quatro lagares de azeite e quatro moinhos.
Casteleiro - Tem dentro do limite desta freguesia esta ribeira sete moinhos e três lagares de azeite, dois pizoins e algum dia teve também um tinte, porém hoje se acha demolido.

57 - Se em algum tempo, ou no presente, se tirou ouro das suas areias.

Vale - Nada
Casteleiro - Nada

58 - Se os povos usam livremente das suas águas para a cultura dos campos, ou com alguma pensão?

Vale - São livres as águas para os moradores.
Casteleiro - Gozam os povos livremente das suas águas.

59 - Quantas léguas tem o rio, e as povoações por onde passa, desde o seu nascimento até onde acaba?

Vale - Tem desde o seu nascente até à Ribeira da Benquerença duas léguas.
Casteleiro - Tem de comprimento donde principia até aonde se mete na Ribeira Meimoa duas léguas e não passa senão ao pé deste lugar de Castelleyro.

60 - E qualquer outra coisa notável que não vá neste interrogatório?

Vale - Nada
Casteleiro - Quando a folha cai para a parte desta ribeira que chamam a folha de Guaralhais de um sítio que chamam as Portellas para baixo, tem a mitra duas partes e a Comenda uma, e das Portellas para cima terá a Comenda duas partes e a Mitra uma, em todos os frutos.
Val de Lobo, 26 de Abril de 1758

Manuel Martins de Olival
Cura do dito lugar
(Transcrição: Américo Valente)

Castelleiro, 25 de Abril de 1758
Manuel Pires Leal
Cura deste dito lugar
(Transcrição: António Marques)