Monday, January 30, 2006

Fretes??

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É um bocado acintoso e talvez até ofensivo escrever isto que segue. Confesso. Mas a verdade é que, depois do mal feito (ou seja: depois de publicadas as peças de propaganda que tenho visto, elas funcionam por si sós… Já ninguém atalha nem remedeia o mal feito à inteligência dos cidadãos de Lisboa). Por isso, aí vai, quaisquer que sejam as consequências. É que os boletins municipais disfarçados irritam. Pior ainda quando nos aparecem embrulhados num jornal de referência, como é o caso do ‘Público’.

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Parecem fretes. Não devem ser. Mas, honestamente, parecem.
Espero que o engano seja meu.
Ontem, Diana Ralha, depois de duas páginas brilhantes de reportagem no Bairro da Liberdade e Vila Ferro, acrescentou algo que mais parece o «BM» do PSD/Lisboa: cerca de 4 mil caracteres dedicados a nada, cheios de propaganda de nada (de nada, mesmo) à conta da CML.
Nada contra a CML. Nada contra o pelouro de Urbanismo de cuja titular, Gabriela Seara, sou amigo. Nada contra Diana Ralha, evidentemente, como atrás se lê. Nada contra o ‘Público’, meu jornal de cada dia, tipo vício. Leio mais ‘Público’ eu do que alguns dos seus profissionais, garanto.
Então, estou contra o quê?
Antes de mais, faltou ouvir moradores e políticos que «pusessem o guizo ao gato», ou seja, que contassem como o PSD na CML, durante o anterior mandato inteirinho (quatro anos, quatro) pôs na prateleira a solução do problema da Vila Ferro e do Bairro da Liberdade.
Depois, estou contra duas outras situações (iterativas)…
Primeiro: contra estes critérios editoriais que levam a que duas ou três vezes por semana, de repente nos últimos tempos, PSD e BE dividam edições.
Segundo: contra a catadupa de páginas cheias de nada, como no dia anterior tinha acontecido, também pela mão da mesma jornalista, com a história dos cinemas de Lisboa. Sem nada para dizer, Amaral Lopes, o vereador do pelouro da Cultura, encheu a 1ª página do ‘Local / Lisboa’. Nada para dizer de concreto. Zero. Nem um boletim municipal o faria, acho eu. Aliás, um amigo meu disse imediatamente: «Isto é propaganda gratuita. Sem qualquer fundamento e a propósito de coisa nenhuma. Isto é feito por iniciativa da jornalista, com a intenção directa de dar tempo de antena aos políticos. Nem o pior boletim municipal do mundo o faria. Esses ainda arranjam pretextos».
É um exagero de visão desse meu amigo. Mas…

O ‘Público’ merece

Ao homem foi aberto o microfone para que falasse, falasse, falasse sobre oito situações, em toda a 1ª página, sem nada ter para dizer sobre nada mesmo: pólo cultural, Cinema Europa, espaços dedicados a actividades culturais, criação de hábitos culturais nos jovens, Teatro Infantil de Lisboa, TIL (mas o que é que ele terá a ver?), Cinema Paris, Cinema São Jorge. O homem não diz nada de palpável sobre nada disto. Apenas arenga, faz propaganda, usa o megafone. E faz bem: põem-lho à frente!
Isto no pelouro da Cultura.
O mesmo pelouro, onde os computadores param por falta de verbas para manutenção, onde um motorista corre a cidade todos os dias a levar de umas bibliotecas para outras exemplares únicos de livros – não há dinheiro para comprar mais do que um exemplar. O mesmo pelouro, onde proliferam «sites» e «blogs», já que são de borla, e não há dinheiro para nada. O mesmo pelouro, onde despesas feitas há dois anos e mais estão por pagar e nem se imagina quando serão pagas. O mesmo pelouro, onde às vezes falta «toner» e papel e as coisas mais elementares. O mesmo pelouro, onde as pessoas que hoje dirigem vivem em tal instabilidade que nem imaginam se amanhã ainda estarão em funções.
Pior: o mesmo pelouro, onde um funcionário tem de enviar livros para outra câmara a bochechos porque não há dinheiro nem para correio…
Tenham santa paciência.
Estas são verdades. O resto é propaganda. Não culpo o vereador Amaral Lopes. Ele apenas aproveitou um «pé de microfone». E fez muito bem.
Desculpem, mas é o que penso.
Reponham o equilíbrio, «please»! O ‘Público’ merece.

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