Tuesday, September 15, 2009

Câmara de Lisboa

Lido aqui


A Câmara de Lisboa dividiu o PCP quando Saramago apelou ao acordo com António Costa, como no tempo de Sampaio e Cunhal. É mau para o PCP que Costa surja vencedor e só nas sondagens?

Dou sempre um grande benefício de dúvida às boas e às más sondagens, que sistematicamente nos dão sempre valores abaixo do que depois é verificado nas eleições. Em relação à câmara, ao contrário de outros momentos na história das eleições na cidade, o PS nem sequer tomou a iniciativa. Saramago e Sampaio apelaram, mas fomos confrontados com a ideia pioneira: nós queremos é discutir lugares, desde que se reconheça a hegemonia do PS na câmara, na Assembleia e nas freguesias.

Foi o PS que não quis aliança?

Se o queria nunca o manifestou. E não basta agitar o espantalho da direita ou de Santana Lopes porque também fizemos uma análise do que foi a governação do PS em Lisboa e, ao fazer um exercício de memória, nas coisas piores de Santana Lopes esteve o PS.

Governo acordos, coligações etc.

Lido aqui:


Tudo indica que nenhum partido terá maioria absoluta. Se o PSD pode contar com a muleta do PP, poderá o PCP viabilizar o PS?

Para um entendimento, um acordo de convergência ou uma coligação com o PS há um problema que considero incontornável, é que mesmo confrontado com os erros da sua política e a derrota a 7 de Junho, o PS disse "Vamos manter o rumo da política."

O que não se verificou.

Começou a alterar a forma.

A ser mais delicado?

Sim, porque em relação aos professores o que disse foi: "Não consegui explicar bem as reformas." Isto não é uma questão de explicar, mas de conteúdos concretos, e a verdade é que não houve, apesar desse ar mais humilde, a expressão que os professores e outros trabalhadores gostariam de ouvir: "Esta medida não serve, é preciso mudá-la." Em relação ao Código do Trabalho, uma das manchas mais negras da governação PS, ninguém ouviu: "Foi um erro, vamos corrigi-lo." E quando não se reconhece, é muito difícil corrigir.

Significa que o PCP nunca poderá entender-se com este PS?

Com este PS e esta política é evidente que há um obstáculo incontornável.

Sócrates faz parte do problema?

Pelo seu estilo, a forma arrogante e pelo poder que tem como primeiro- -ministro e secretário-geral do PS, tem responsabilidades particulares. Mas não bastaria mudar de primeiro-ministro...

Queria que o primeiro-ministro de um governo socialista/comunista tivesse um outro primeiro-ministro que não José Sócrates?

Entrando num exercício académico, a política teria de ser outra. Esta é a questão que consideramos chave.

Então não veta José Sócrates?

Não! O problema não está na pessoa, está na política que foi realizada e que tem responsabilidades concretas de Sócrates e do seu Governo. O País está mais desigual e menos soberano porque o PS, que se diz de esquerda, não é capaz de abdicar de todo o lastro neoliberal de uma política de direita.

Sócrates diz que abdicou.

Não abdica, basta ler o programa do PS, em que se recusa a responder como é que vai dar combate ao défice que no final do seu mandato é maior.

Porque foi preciso investir na recuperação económica...

O problema é saber como é que se vai voltar ao bom défice, se é pela via que aconteceu no passado recente, atingindo os trabalhadores da administração pública, professores, juízes e a população em geral. E o programa do PS não dá resposta, mantém intocáveis sectores responsáveis pela crise como é o financeiro e não dá resposta à questão de procurar outra política.

Mantendo o registo académico e numa hipotética coligação com o PS, que pastas quereria o PCP?

O PCP não pensa nem em postas nem em pastas e recusa-se a discutir essa questão sem o confronto de soluções políticas que o País precisa. Seria enganar os portugueses disponibilizarmo-nos para uma solução governativa embarcando a troco de alguns lugares numa política contrária ao que afirmamos aos portugueses.

Não será também defraudar os portugueses se resultar uma ampla maioria sociológica de esquerda que não é capaz de formar um governo estável?

É uma pergunta a fazer ao PS, que se afirma de esquerda e pratica uma política de direita. É o problema central.