Lido aqui:
Tudo indica que nenhum partido terá maioria absoluta. Se o PSD pode contar com a muleta do PP, poderá o PCP viabilizar o PS?
Para um entendimento, um acordo de convergência ou uma coligação com o PS há um problema que considero incontornável, é que mesmo confrontado com os erros da sua política e a derrota a 7 de Junho, o PS disse "Vamos manter o rumo da política."
O que não se verificou.
Começou a alterar a forma.
A ser mais delicado?
Sim, porque em relação aos professores o que disse foi: "Não consegui explicar bem as reformas." Isto não é uma questão de explicar, mas de conteúdos concretos, e a verdade é que não houve, apesar desse ar mais humilde, a expressão que os professores e outros trabalhadores gostariam de ouvir: "Esta medida não serve, é preciso mudá-la." Em relação ao Código do Trabalho, uma das manchas mais negras da governação PS, ninguém ouviu: "Foi um erro, vamos corrigi-lo." E quando não se reconhece, é muito difícil corrigir.
Significa que o PCP nunca poderá entender-se com este PS?
Com este PS e esta política é evidente que há um obstáculo incontornável.
Sócrates faz parte do problema?
Pelo seu estilo, a forma arrogante e pelo poder que tem como primeiro- -ministro e secretário-geral do PS, tem responsabilidades particulares. Mas não bastaria mudar de primeiro-ministro...
Queria que o primeiro-ministro de um governo socialista/comunista tivesse um outro primeiro-ministro que não José Sócrates?
Entrando num exercício académico, a política teria de ser outra. Esta é a questão que consideramos chave.
Então não veta José Sócrates?
Não! O problema não está na pessoa, está na política que foi realizada e que tem responsabilidades concretas de Sócrates e do seu Governo. O País está mais desigual e menos soberano porque o PS, que se diz de esquerda, não é capaz de abdicar de todo o lastro neoliberal de uma política de direita.
Sócrates diz que abdicou.
Não abdica, basta ler o programa do PS, em que se recusa a responder como é que vai dar combate ao défice que no final do seu mandato é maior.
Porque foi preciso investir na recuperação económica...
O problema é saber como é que se vai voltar ao bom défice, se é pela via que aconteceu no passado recente, atingindo os trabalhadores da administração pública, professores, juízes e a população em geral. E o programa do PS não dá resposta, mantém intocáveis sectores responsáveis pela crise como é o financeiro e não dá resposta à questão de procurar outra política.
Mantendo o registo académico e numa hipotética coligação com o PS, que pastas quereria o PCP?
O PCP não pensa nem em postas nem em pastas e recusa-se a discutir essa questão sem o confronto de soluções políticas que o País precisa. Seria enganar os portugueses disponibilizarmo-nos para uma solução governativa embarcando a troco de alguns lugares numa política contrária ao que afirmamos aos portugueses.
Não será também defraudar os portugueses se resultar uma ampla maioria sociológica de esquerda que não é capaz de formar um governo estável?
É uma pergunta a fazer ao PS, que se afirma de esquerda e pratica uma política de direita. É o problema central.